O ano de 2018 definitivamente foi considerado histórico para o cenário da moda inclusiva, não no sentido de roupas adaptadas, mas na inclusão de deficientes nas passarelas. Produtores de eventos de grande porte, estão de olho e apostando na eficiência dos profissionais com alguma deficiência. 

 
O mercado internacional ainda proporcionam as maiores oportunidades de trabalho. Aqui no Brasil, podemos destacar três eventos com o verdadeiro sentido da palavra  inclusão, pessoas com e sem deficiência no mesmo casting, o que dá visibilidade para o segmento da pessoa com deficiência. 
Banquete de Ronaldo Fraga, na edição 46 do SPFW, faz abertura com modelos amputados de membro inferior: Bruno Alencar (29) e Vagner Molina (48). Heterossexuais que protagonizaram um beijo gay. Inspiração da coleção foi o conflito entre Israel e Palestina.
O estilista mineiro, Ronaldo Fraga, na edição de número 46 do São Paulo Fashion Week (SPFW), pelo segundo ano, repetiu a inclusão com modelos convencionais juntamente com crianças,  pessoas da terceira idade e deficientes. O tema foi tolerância. Bruno Alencar e Vagner Molina, ambos amputados, membro inferior e com uso de prótese, abriram o desfile. Um convite ao banquete da paz, uma mesa de jantar no meio da passarela, com direito a encenar um beijo em sinal de paz e que o amor fique acima de qualquer diferença.  No final, modelos e convidados puderam sentar lado a lado para aproveitarem um belo jantar.
O segundo evento que merece destaque é o desfile “Todo Mundo tá na Moda“, promovido pelo SENAI CETIQT. Foram 24 alunos do curso de moda, de todo o Brasil, selecionados para um workshop de três meses com total suporte para pensarem em 12 mini coleções, partindo do zero até a execução de um desfile de dimensões internacionais.
Coleção “Os Forte Vivem” teve na passarela do Senai Brasil Fashion (SBF): Paola Antonini, Vagner Molina e Pauê
O SENAI Brasil Fashion 2018, separou os alunos em duplas: estilista e modelista para terem orientações com coaches renomados:  Alexandre Herchcovitch, Lenny Niemeyer, Lino Villaventura e Ronaldo Fraga. Também puderam contar com consultores de peso  como: Daniel Ueda, Ed Benini, Jackson Araujo, Wilson Ranieri, Rodrigo Costa e Max Blum. No casting, nomes de peso como Barbara Berger, Bruno Montaleone, Carol Trentini, Celina Locks, Daiane Conterato, Emanuela De Paula, Lais Ribeiro, Marina Dias, Paola Antonini, Paulo Zulu, Renata Kuerten e Valentina Sampaio. O destaque fica por conta da diversidade:  Sam Gonçalves – que tem vitiligo, Andreza Aguida – albina com baixa visão, Márcio Monclair  – deficiente visual, Weslley Baiano e Goan da comunidade LGBTI+.  
A dupla que representou Minas Gerais foram  o estilista Otávio Augusto e o modelista Douglas Carlos da Silva. Única mini coleção com casting formado totalmente por modelos com deficiência. Um trio de amputados: Paola Antonini, Vagner Molina e Pauê. A coleção recebeu o nome de “Os Fortes Vivem” , roupas com adaptações que facilitam o vestir e despir da pessoa com deficiência. O tema teve como inspiração o cenário apocalíptico. 
Pauê, surfista biamputado, afirma que eventos como esse servem para conscientizar a sociedade que pessoas com deficiência tem a capacidade de ocupar qualquer espaço e que a moda e beleza não são assuntos que devam seguir uma padronização estética.
A dupla que representou o Rio Grande do Norte foram a estilista Anna Elissa e o modelista Iure Dantas. A coleção recebeu o nome de “Brilhante”, foi pensada para usuário com deficiência visual e a inspiração foi a história do cangaceiro Jesuíno Alves de Melo Calado (Patu – 1844 a 1879) , mais conhecido como Jesuíno Brilhante, um dos percursores do cangaço no nordeste brasileiro e que fazia justiça com as próprias mãos. Todas as etiquetas internas com informações de tamanho, cor e conservação da roupa em alfabetos romano e Braille.
Marcio Monclair, do casting da fotógrafa Kica de Castro, volta em grande estilo as passarelas, após ficar deficiente visual.
Na passarela, nada mais justo que um deficiente visual para apresentar a coleção. O atleta Márcio Monclair, do casting da fotógrafa Kica de Castro, foi selecionado, após um processo rigoroso. Antes da deficiência, Monclair era modelo, sofreu uma acidente de moto e por 12 anos ficou longe das passarelas. Como a proposta do evento é revelar novos talentos no mundo da moda, o desafio foi feito também para o casting, de superar os medos e voltar profissionalmente em grande estilo.
A passarela não teve marcação no piso, Márcio pode desfilar tranquilamente com sua bengala e seguindo as marcações auditivas. “Voltar as passarelas com um evento nessas proporções é simplesmente gratificante, reconhecimento que profissionais com deficiência só precisam de mais oportunidades para mostrar a capacidade e que a moda sem dúvidas e um espaço democrático” – ressalta Monclair. 
Tatiana Palezi, produtora do evento, da agência Samba Marketing, comenta que Márcio foi um destaque a parte e que mesmo sendo cego, desfilou melhor que muitos profissionais videntes. O evento aconteceu no dia 22 de novembro, no Centro Cultural Ação e Cidadania, Rio    de Janeiro.
Por último e não menos importante, a edição de número 44 da Casa dos Criadores, teve a modelo Ravelly Santana, amputada de membro inferior com uso de prótese,  também do casting da fotógrafa Kica de Castro, fazendo a representatividade da pessoa com deficiência. O desfile foi assinado pelos estilistas Alex Santos e Van Loureiro, com o tema “O dia depois de amanhã”, uma visão pós apocalíptica do nordeste brasileiro. 
 ” Fico feliz em poder fazer parte desse momento histórico onde o corpo da pessoa com deficiência é uma referência de beleza” – ressalta Ravelly, que também é estudante de jornalismo.
 
Fechamos o ano com ótimos resultados na moda e convictos que em 2019 os resultados serão ainda maiores. Empenho por parte da agência Kica de Castro Fotografias,  revista digital Tendência Inclusiva, programa Viver Eficiente e parceria com o site Casadaptada não faltam para isso. Todo esforço será apresentado em novas passarelas brasileiras.
Texto e imagens: Kica de Castro
Publicitária e Fotógrafa, tem uma agência de modelos exclusiva para profissionais com alguma deficiência, desde 2007. Anos de trabalho provando que beleza e deficiência não são palavras opostas. Apresentadora do programa Viver Eficiente, colunista das revistas Tendência Inclusiva e Reação.