Candidata a deputada federal em São Paulo, Andréa Werner, que é mãe de um menino autista, quer lutar pela inclusão e pela qualidade no atendimento para as pessoas com deficiência
 
Por Aline Dini
 
Andréa Werner com o filho Theo, que é autista e a inspirou a ser ativista pelas causas das pessoas com deficiência (Foto: Reprodução Instagram)
Andréa Werner com o filho Theo, que é autista e a inspirou a ser ativista pelas causas das pessoas com deficiência (Foto: Reprodução Instagram)
 
Há 8 anos, a jornalista Andréa Werner,42, recebia o diagnóstico de autismo do filho Theo, 10. Dois anos depois passou a compartilhar sua experiência no blog Lagarta Vira Pupa, onde também cobra atendimento de qualidade e inclusão para as crianças com deficiência. A partir daí, Andréa passou a ter uma legião de pais e mães que veem em seu blog um canal de empoderamento para enfrentar as tantas barreiras impostas pela sociedade às crianças com deficiência. O blog foi crescendo e, quando a mineira de Belo Horizonte se deu conta, já havia se tornado porta-voz da causa. Um dos pontos que mais chocou Andrea foi descobrir que muitas mães sequer tinham coragem de sair de casa com os filhos, temendo o preconceito que os esperava do lado de fora. “Diante disso, passei a me reunir com elas para conversar e interagir. Criei também o ‘Pupanique’, um piquenique realizado periodicamente em parques e que chegou a reunir 800 pessoas em uma ocasião”, conta.
 
Tanto o blog quanto os encontros têm o objetivo de fazer com que essas famílias entendam que o espaço público também pertencia aos seus filhos. “Sempre quis promover uma mudança de mentalidade tanto para as famílias dos autistas quanto as que não convivem com esse tipo de realidade. Só estando perto dessas pessoas para entendê-las e ver o quanto o Estado falha com elas, especialmente nas áreas da saúde e educação”, diz. 
 
O primeiro passo para sua candidatura à deputada federal aconteceu após uma audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo, em fevereiro desse ano, onde defendeu mais de 2.500 crianças autistas que ficaram sem aula após mudanças nos contratos do Estado de São Paulo com as escolas conveniadas. Foi quando recebeu o convite para a candidatura. “Minha atuação de militância política já havia começado com os protestos nas redes sociais, mas nas audiências ao vivo entendi que eu poderia ajudar muito mais se estivesse no legislativo.”
 
Em entrevista à CRESCER, ela falou sobre suas propostas e o desafio que a espera como defensora das famílias de pessoas com deficiência. Confira:
 
Quais são as suas principais propostas de governo?
Eu já tenho 18 propostas prontas para diversas áreas. Todas elas visam proporcionar uma vida mais digna às crianças e adultos. Aumentar o número de pesquisas, capacitação e reciclagem dos profissionais da saúde pública para diagnóstico precoce e encaminhamento de intervenções é algo que proponho, e que é urgente. Os médicos são unânimes em dizer que o cérebro da criança se desenvolve muito até os 3 anos. Então, se o diagnóstico é dado antes desse período, é possível iniciar logo o tratamento e fazer com que ela se desenvolva melhor e tenham mais autonomia. Fiz uma pesquisa no meu blog e recebi 1.200 respostas, sendo que 76% delas afirmavam que o pediatra do filho não identificou o autismo ou ignorou essa possibilidade apresentada pela família. Ainda lidamos com o discurso de que a culpa pelo atraso no desenvolvimento dos filhos é dos pais, que não os estimulam como deveriam.
 
Outras propostas importantes são: a criação de “centros dia” para jovens e adultos com deficiência, onde eles tenham atividades ocupacionais, terapêuticas e profissionalizantes; garantir que os planos de saúde não recursem ou dificultem os atendimentos necessários; fazer com que os cursos de pedagogia tenham, pelo menos, um ano de educação especial e inclusiva, com foco em ensino estruturado, comunicação alternativa e recursos de alfabetização para pessoas com deficiência, a fim de capacitar os professores a receber esses alunos. O fornecimento de exames genéticos pelo SUS em casos de suspeita de síndromes raras em bebês também está entre as minhas propostas.
 
90% do legislativo é formado por homens. Eles conhecem o drama que essas famílias vivem?
Certamente não. Isso fica cada vez mais claro nas audiências das quais participo: recentemente, um deputado estadual que estava sentado ao meu lado ouvindo os depoimentos de mães que temem pelo futuro dos filhos quando elas falecerem comentou que não fazia ideia de que existisse essa preocupação. Vale dizer que temos boas e avançadas leis, mas elas não são fiscalizadas. Não temos representatividade em Brasília. Não há políticos militando pela causa das crianças e adultos com deficiência. Converso com muitos deputados e eles não sabem da epidemia de abandono paterno que essas crianças sofrem.
 
Andréa Werner vai lutar pela causa dos deficientes (Foto: Reprodução Instagram)
Andréa Werner vai lutar pela causa das pessoas com deficiência (Foto: Reprodução Instagram)
 
Como você está fazendo sua campanha?
A campanha está a todo vapor. Tenho agenda em muitas cidades. O que mais tenho feito é sentar com mães e professores e ouvir deles qual é a real situação. Todas as minhas propostas, inclusive, foram baseadas nessas necessidades. É nas rodas de conversa que consigo entender a fundo a situação de cada família e ver como posso atuar para ajudar. Ontem à noite mesmo, durante uma dessas rodas, uma mãe me contou que o filho usa sonda, fez traqueostomia, tem várias convulsões, mas o SUS não cobre os exames que ele precisa fazer, porque o menino tem uma síndrome rara. Nessas reuniões, eu ouço mais do que falo. Espero poder colocar em prática o que tenho em mente e assim poder contribuir de forma positiva para a vida dessas pessoas. No fim das contas, essa é a minha missão.