Texto do Alessando – Blog do cadeirante

 

Cadeirante sente prazer?

Tá bom pra você?

Essa é umas das primeiras questões que vem à cabeça de uma pessoa quando ela vira cadeirante. Principalmente quando ela sofre uma lesão medular. A impressão que se tem é que a vida sexual acaba depois de uma lesão na coluna, afinal perde-se os movimentos e sensibilidade da lesão para baixo. Eu mesmo já pensei isso há muitos anos, vendo um cadeirante. “Perder os movimentos é complicado, mas deve ser triste ficar sem vida sexual”. Felizmente, eu estava enganado. Vou falar nesse post do ponto de vista masculino, pois posso falar por experiência própria.

Em primeiro lugar, nem todos os movimentos são perdidos. A ereção ainda ocorre na grande maioria dos casos, de maneira involuntária e reativa, mas relativamente normal. A duração é que vai diminuindo. No início, pelo menos no meu caso, ocorreu o contrário. A ereção durava muito tempo. Enquanto houvesse “atividade”, ele continuava lá, firme e forte. Com o tempo, a duração foi diminuindo, diminuindo, e ainda hoje é menor que o normal. Mas é só ter paciência, estimular novamente, que volta a ficar animadinho. Mas muitos cadeirantes tem dificuldade em manter e só conseguem a ereção com remédios. Isso não é vergonha para ninguém, é só uma condição, que felizmente tem “cura”. Mas esse post não é sobre ereção, e sim sobre prazer. Só aproveitei para falar um pouco disso.
Acontece que o prazer não é dependente da ereção. Para os homens, é difícil entender isso, pois ligamos muito o prazer à ereção e à ejaculação. E temos a falsa impressão que só é possível dar prazer a uma mulher se a ereção ocorrer. A verdade é que prazer é muito mais do que isso. No homem o orgasmo está muito ligado à ejaculação, e os lesados medulares descobrem o que as mulheres já sabem: há outras formas de sentir prazer e chegar ao orgasmo. Um dos maiores responsáveis por ela é o cérebro, e isso não é afetado pela lesão. Então o prazer começa na imaginação. Por isso é importante que as coisas aconteçam da forma mais normal possível, com sexo oral, toque, amassos e tudo mais. Tem mulher que não vê sentido em fazer sexo oral no homem que tem lesão porque ele não está sentindo. Mas está vendo, e assim estimula o cérebro e busca o prazer.
Além disso, podemos buscar prazer na sensibilidade da pele, que no caso de um lesado medular, se limita, ou é mais nítida, na área acima da lesão, geralmente parte do tronco, braços e cabeça. E nessas áreas há muitas formas de sentir prazer, não só com os sentidos que citei. No quesito pele, podemos explorar áreas erógenas pouco exploradas pelos homens, como nuca, pescoço, braços, e principalmente, mamilos, que já tem uma sensibilidade maior. Me lembrei da “aula” sobre sexo no Hospital Sarah. Tinha um cara lá meio machista, mas engraçado. A médica explicou isso que falei acima, que seria importante explorar outras zonas erógenas, como cabeça, nuca, mamilos… e o cara solta: “quer dizer então que todos nós viramos moças?” Tive que rir! E completei: “é cara, agora que vai mamar no peitinho é a mulher!” kkkkk
Então, como todo mundo, cadeirante também sente prazer. Ouvi falar de casos de tetraplégicos que vão à loucura só com carinhos na nuca. Independente da limitação que seja imposta ao nosso corpo, é possível sim encontrar formas de sentir prazer. Cabe a nós explorá-las. Não falei sobre o caso das mulheres porque não tenho muito conhecimento mesmo, mas creio que seja até mais fácil do que os homens, pois elas já tem o hábito de explorar outras áreas. Então é isso, relaxa e goza!

Source: Blog do Cadeirante: Cadeirante sente prazer?