Desfile da Embaixadores da Alegira na Marquês de Sapucaí
Desfile da Embaixadores da Alegira na Marquês de Sapucaí | Hagall Muniz/ Divulgação
 
Por Ana Paula Blower
 
A Embaixadores da Alegria apresenta seu 11º carnaval na Marquês de Sapucaí este ano. Formada sobretudo por pessoas com deficiência motora e cognitiva, a escola de samba abre tradicionalmente o desfile das campeãs do carnaval carioca. Serão nada menos que 1.400 pessoas a desfilar pela avenida no próximo sábado com o enredo “Super-Homem, super-herói, superação”.
 
— Vamos cantar os 80 anos do Super-Homem. Muita gente não sabe, mas o personagem foi criado inicialmente sem superpoderes e para combater a corrupção política. Queremos mostrar para as pessoas a força que precisamos ter para sobreviver às loucuras da vida — destaca Paul Davies, fundador da Embaixadores, que é inglês e mora há 30 anos no Brasil.
 
O primeiro desfile da azul e branco foi em 2008, e a tradição se mantém desde então. Este ano, a escola desfila com uma comissão de frente de 15 integrantes, três casais de mestre-sala e porta-bandeira e 180 ritmistas na bateria. À frente da ala de pessoas com nanismo, que terá 60 integrantes, a veterana Viviane de Assis vem como destaque. Todos desfilarão a caráter, com camisetas de Super-Homem ou Mulher Maravilha.
 
Como todas as escolas de samba, a Embaixadores também conta com uma equipe de harmonia, para garantir que a agremiação não ultrapasse os 82 minutos de desfile. Há uma intérprete de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) que acompanha tudo para traduzir o que for preciso para as pessoas surdas. Amigos e familiares dos componentes também desfilam.
 
Embora não siga cobranças rígidas como as feitas às grandes escolas que buscam um título, a Embaixadores da Alegria tem um compromisso com o bem-estar de seus integrantes. Não importa quem tem o corpo ou a fantasia mais bonitos, mas o sorriso mais exuberante e sincero. Por isso, há um cuidado específico para se respeitar o tempo de cada um.
 
Foram esses detalhes que conquistaram a passista Viviane de Assis, que está com a escola desde a sua fundação. Dona de um currículo extenso no mundo do carnaval, incluindo dez anos de desfiles pela Viradouro, ela tem uma agenda cheia nesta época. Não falta a nenhum compromisso, mas o coração pula mesmo ao ver a azul e branco entrar na avenida.
 
— É a escola que eu grito, visto a camisa. E isso é pela beleza de incluir todas as pessoas, com todos os tipos de deficiência. A Embaixadores não está ali para competir, mas para divertir e mostrar que qualquer um é capaz de atravessar a avenida e brincar o carnaval — elogia ela, que virá fantasiada de Mulher-Gato no dia 17.
 
                              A passista Viviane de Assis desfila com a azul e branca desde sua fundação
A passista Viviane de Assis desfila com a azul e branca desde sua fundação | Hagall Muniz/ Divulgação
 
O início de tudo
 
O orgulho em colocar uma escola na Sapucaí com a inclusão em seu DNA é a motivação de Paul Davies para seguir com seu projeto, apesar das dificuldades financeiras. Fundador da escola, ele lamenta a falta de apoio. Há três anos não consegue mais promover oficinas de carnaval para pessoas com deficiência e seus familiares. Ainda assim, não foge da folia.
 
— A escola faz com que seja possível para todos participarem do maior evento cultural do mundo, que é o carnaval. Ninguém fica de fora. É inclusão social e emocional — diz.
 
Ao chegar ao Rio, o inglês pouco sabia sobre a festa momesca. Um dia, trabalhando como guia, levou turistas para assistir ao desfile na Sapucaí e ficou deslumbrado.
 
— Senti uma coisa diferente, que ia até a alma, e fiquei maluco. Era fim da madrugada, e a Portela entrava na Avenida. Fui mordido ali pelo carnaval — lembra Paul.
 
Depois daquele dia, ele já fez de tudo na folia: desde empurrar carro alegórico até trabalhar na Viradouro como responsável por uma ala comercial. No carnaval de 2005, com a escola de Niterói entre as campeãs, Paul sofreu uma contusão enquanto ajudava um casal de idosos a trocar o pneu do carro. Sentindo dores fortíssimas, não pôde desfilar e, ao ver sua ala na Marquês de Sapucaí, chorou “copiosamente”:
 
— Foi ali que pensei: “Como deve ser para alguém com deficiência ver tudo isso e não participar?’”. Assim acendeu uma luz e nasceu a ideia da Embaixadores.