Escrito por: Ana Luiza Schmidt
 
Muitas vezes assistimos filmes, séries e desenhos e nem percebemos que alguns dos personagem tem alguma deficiência. E isso é incrível, pois só comprova que se todos tratarem essas questões sem nenhum preconceito, o que é “diferente” acaba sendo “normal”.
 
Por isso, vamos analisar personagens dos filmes da Disney e tenho certeza que você já assistiu um deles:
 
 
Quasímodo (O Corcunda de Notre Dame) – É um personagem que se liberta do seu próprio preconceito. Ele se acha inferior, um monstro. Mas não consegue perceber o quanto é incrível construindo uma cidade inteira de madeira ou escalando corajosamente os prédios e torres. Mas tudo dependeu de sua criação: Frodo o trancou em uma torre durante sua vida inteira, o fez pensar que sua mãe não o queria (quando na verdade, no início do filme mostra que foi Frodo que não o quis) e que ele era um monstro e reforçou que a vida lá fora era difícil demais para alguém que tem deficiência como ele. Mas, quando ele conhece outras pessoas que não eram preconceituosas, especialmente Esmeralda, uma mulher que já tinha um histórico de luta por igualdade e justiça, ele descobre que na verdade, a vida de quem tem deficiência só é mais difícil por causa de pessoas preconceituosas como Frodo. Fantástico!
 
O filme só tem um defeito: sequer menciona a acessibilidade. Sequer menciona o que, traduzindo para a nossa sociedade atual, por exemplo, seriam rampas de qualidade, pisos táteis ou psicopedagogos em escolas públicas e privadas. Para o filme, um mundo sem acessibilidade ou com não fariam tanta diferença. O que todos sabemos que é uma grande bobagem.
 
 
Capitão gancho (Peter Pan) – O filme compara uma deficiência com, por exemplo, uma quebra temporária de joelho.
 
Lembro-me quando quebrei meu joelho. Eu o quebrei dançando. Hoje, tenho pavor de entrar em uma pista de dança.
 
Um crocodilo comeu a mão de Gancho. Hoje, ele tem pavor daquele crocodilo.
 
Mas é importante lembrar que deficiências são muito diferentes de machucados. Machucados são dores temporárias, mas deficiências são partes daqueles que tem alguma, além de que mudam totalmente a personalidade da pessoa, muitas vezes para melhor. Mas não foi o caso de Gancho: ele ficou traumatizado e sua vida ficou infernal após a perda de sua mão.
 
E outra coisa. Há aqueles que acham que o Capitão Gancho é empoderado, conseguindo fazer várias coisas que muitos preconceituosos duvidariam que alguém com deficiência fariam. Mas ele nem consegue matar o menino Peter Pan ou o crocodilo.
 
Entretanto, para aqueles que gostam do personagem e querem defende-lo, vai aí um argumento convincente: Peter Pan foi lançado em 1953.
 
                               
 
Soluço (Como Treinar o Seu Dragão) – Soluço realmente é um garoto que aprende a não ter preconceitos. Em sua convivência com Banguela, ele descobre que o que os habitantes de Berg sabiam sobre dragões era baseado em experiências rasas. E isso pode ser aplicado a qualquer preconceito, inclusive o capacitismo (aquele que se refere às pessoas com deficiência). Diante disso tudo, todo o preconceito gera uma reação, ruim e trágica na maioria dos casos. Os vikings achavam que os dragões eram ferozes por natureza, e portanto matavam os pobres animais. Certas pessoas acham que pessoas com deficiência são inúteis, e portanto excluem. Em entrelinhas, é isso o que o filme critica.
 
E isso sem falar de a partir do momento em que ele fica amputado. Primeiramente, ele se torna uma pessoa com deficiência, o que já desmistifica a ideia de que quem tem defiiciência já nasce com uma. Em segundo lugar, em seus primeiros minutos aparecendo amputado, Soluço é glorificado por todos de Berg, não por ter deficiência, mas por ter revolucionado Berg. Em nenhum momento do filme (nem em sua continuação, o “Como Treinar o Seu Dragão 2”), ele não é tratado de maneira desigual em nenhum momento. Muito pelo contrário: com algumas acessibilidades (como na sela do Banguela (o dragão dele) ou usando prótese), ele é um hábil viking que consegue ir longe e encontrar sua mãe no segundo volume. Terceiro que na própria continuação, ele descobre quem ele é por dentro, de forma a desmistificar que pessoas com deficiência são apenas pessoas com deficiência: Soluço tem ensinamentos de seu histórico com Banguela, e principalmente, é um filho que herdou o jeitinho da mãe. Ele é muito mais que só com deficiência. Por último (mas não menos importante hahaha), ele tem uma namorada, Astrid, além de amigos fantásticos. Isto prova que pessoas com deficiência podem ter uma vida social normal e que nem sempre são assexuais.
 
 
Banguela (Como Treinar o Seu Dragão) – não nascido com deficiência, Banguela, o dragão de Soluço, é um exemplo claro do quanto a acessibilidade é importante para pessoas com deficiência. Ele também é amputado, perdeu parte de sua cauda. Diante disso, Soluço, seu dono, faz um ato inclusivo: constrói uma prótese para ele. Com ajuda da prótese e de Soluço, Banguela consegue voar novamente. Sem essas acessibilidades, o pobre bichinho iria morrer exilado.
 
 
Bocão (Como Treinar o Seu Dragão) – Apesar de ser o menos empoderado dentre os três personagens com deficiência da trama de Berg, Bocão é versátil: cumpre muito bem o seu papel de assistente do rei e de treinador de futuros matadores de dragões. Com um pouco de acessibilidade (perceba que o gancho dele está sempre mudando. Uma hora, é apropriado para tomar cerveja. Outra hora, para trabalhar, etc.), ele consegue tudo também.
 
Detalhe: assim como Soluço e Banguela, ele não tem deficiência desde que nasceu.