Marcos Bauch nos conta sua história, da importância de se adaptar, mas também de entender suas diferenças

por Luciano Andolini

Foto de Cris Alves

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Normalmente falamos em superar as dificuldades, livrar-nos dos problemas e dar a volta por cima. O discurso mais comum é o de atravessar, tornar-se mais forte que seus inimigos, enfim, vencer.
 
 
 
Mas há problemas que não são transponíveis. Há dificuldades que não podem ser deixadas pra trás por que estão entranhadas, fazem parte de você.
 
Marcos Bauch é servidor público pelo IBAMA, é pai do Miguel e da Manu, é atleta amador de natação em águas abertas, já ganhou a Travessia dos Bravos, já ganhou travessias em Brasília no Lago Paranoá e já ficou entre os dez melhores na travessia dos fortes no Rio de Janeiro.
 
Pelo currículo é difícil de se imaginar, mas o Bauch é hemofílico e locomove-se utilizando muletas.
 
“A coisa que mais me incomoda é aquela visão do coitadinho. Você chega em um lugar, está andando de muletas, você usa a cadeira de rodas e já é automaticamente uma pessoa coitadinha. ‘Ah, coitadinha, não consegue fazer tudo o que uma pessoa normal consegue fazer’.
 
Isso me deixa chateado porque, na verdade, não é que você não vai conseguir fazer. Você vai fazer de formas diferentes. Vai fazer o que as pessoas fazem adaptando, logicamente.”
 
Nesta edição do Caixa-preta, ele nos conta sobre a sensação de não se ver parte de um ideal de popularidade, sobre suas dificuldades com paquera, como é ser pai na sua condição, além de falar também sobre como as pessoas têm pouca empatia com portadores de deficiência, considerando alguns direitos básicos como privilégios.
 
É muito fácil cair no papel de coitadinho, ele diz, afinal, você tem a desculpa perfeita. Todo mundo vai achar ok se você desistir. No entanto, ele conta também como o histórico familiar de grandes viagens e a liberdade que a família concedia o tornaram uma pessoa propensa a praticar esportes e manter uma vida ativa não definida apenas pela sua deficiência.
 
Como ele diz, a pessoa com deficiência tem uma experiência completa em si mesmo. Ela não é menor. Todo o conjunto de emoções, sensações e anseios está lá. No entanto, ele também afirma que a construção da vida de uma pessoa com deficiência pela comparação pode trazer desânimo e frustrações contraproducentes, uma vez que a pessoa nunca vai atingir aquele padrão que ela está almejando. Quando você percebe que essa sua experiência já é completa, a necessidade da comparação perde sentido.
 
Em um mundo tão repleto de ideais de beleza, consumo e comportamento, ouvir uma fala como essa certamente é reconfortante.
 
Com certeza, tem uma bela lição pra todos nós aí.