POR JAIRO MARQUES
 
             
          Luana e seu namorado Ricardo se conheceram por meio de um aplicativo
 
Arrisco dizer que 90% do povo com deficiência passa pelo menos um momento de sua vida sentimental sofrendo e se lamentando pelo impacto que ter os cambitos finos ou por sua aparência “diferentona” causou em seu coraçãozinho.
 
Sem maturidade, apoio ou autoestima, é muito comum colocar como causa de fracassos românticos aquilo que falta física ou sensorialmente. De certa maneira, parte das pessoas vai mesmo dar um valor determinante nos aspectos físicos na busca por um parceiro (a), mas para avançar é preciso olhar para a outra parte, a que está interessada em amor, em sentimento, em companheirismo.
 
Com as diversas ferramentas tecnológicas hoje à disposição, é possível ampliar um bocado o campo de “busca” pelo seu “match”. Mas é sempre preciso ter como meta a franqueza daquilo que se é para não botar o outro em uma “armadilha”.
 
Lááááá nos meus tempos de jovem ? , usei muito a ferramenta de bate-papo (será que isso ainda existe?) online para conhecer e namoricar pessoas. É legítimo, desde que os riscos e consequências sejam bem conhecidos.
 
Não dizer em um ambiente cibernético que se é cadeirante, cego ou surdo e dar um de “normalzão”, enganando possíveis parceiros, pode ser uma catástrofe não só porque o “alvo” romântico pode se sentir incomodado com sua condição, não entendê-la, como declarar que foi enganado.
 
De qualquer maneira, a máxima de que “qualquer pé cascudo encontra um chinelo velho” ? nunca foi tão válida como atualmente.
 
O relato abaixo, da talentosa Luana Sanches, mostra com propriedade e emoção como o mundo moderno abre novas possibilidades de conhecer pessoas, se relacionar (encontrar sexo, por que não?) e abrir caminho para uma mudança sentimental.
 
Boa leitura, bom dia dos namorados e abram seus corações, notebooks, aplicativos e tudo mais para o amor!
 
Meu nome é Luana, tenho 29 anos. Nasci prematura, aos seis meses (sim, estava com pressa!), e tive anóxia após o vir ao mundo, e isso gerou uma sequela em membros inferiores decorrente de paralisia cerebral.
 
Na adolescência ia às festinhas de colégio, sempre fui falante e desinibida, mas os meninos nunca chegavam em mim e até comecei a pensar que nunca teria um namorado! ?
 
Chegou a época da faculdade, já tinha ampliado meu círculo de amigos, queria conhecer mais gente, ganhar o mundo, ser mais independente. E em um domingo chuvoso sem nada pra fazer, pensei: Vou fazer um Tinder! (aquele aplicativo que todo mundo estava falando) pensei em um perfil engraçadinho que me descrevesse bem
 
Coloquei nas fotos do perfil, imagens minhas na cadeira e na descrição deixei bem claro que eu era CADEIRANTE! (Pensei, o moço que se relacionar comigo não pode ter nenhum tipo de problema com isso).
 
Pra quem não conhece o Tinder é um aplicativo em que você curte pessoas baseado nas fotos e perfil delas e se o interesse de vocês for mutuo, podem iniciar uma conversa. 
 
Já tinha encontrado algumas pessoas com interesses em comum e ao contrário do que muita gente pensa com relação a encontros com pessoas que a gente conhece pela internet, não conheci nenhum maluco. Todos que eu conheci foram pessoas bacanas e alguns são meus amigos até hoje!
 
Mas ninguém até aquele momento tinha dado aquele famoso “tchan” friozinho na barriga, aquela vontade de encontrar de novo e de novo e cada dia mais!
 
Até que um belo dia encontrei o Ricardo, ele era especial, o texto do perfil era inteligente, ele estava todo bonitão nas fotos (até achei bastante areia pro meu caminhãozinho, mas pensei: vou curtir! Quem não arrisca não petisca! Kkkk).
 
            
         O casal, que já está junto há um ano e dois meses
 
Passamos umas três semanas conversando antes de nos encontrar e a conversa fluía como nunca tinha sido com ninguém anteriormente (eu já sentia em meu coração é ele).
 
Desde o início, expus as particularidades do mundo Matrix [universo paralelo em que vivem as pessoas com deficiência] pra ele, falei que por causa da minha lesão não conseguia pegar copos de plástico, o que eu conseguia e não conseguia fazer e nada disso o assustava.
 
Então resolvemos marcar um encontro: fomos tomar um café em um shopping na Paulista, a partir daí não nos desgrudamos mais e uma semana depois ele me pediu em namoro.
 
                 
 
Hoje estamos há 1 ano e dois meses juntos, cada dia mais apaixonados e mais dentro do mundo do outro! Ele transformou o meu mundo e eu o mundo dele!
 
A família dele foi super legal comigo desde o início e me aceitou nunca me tratou com nenhuma diferença por eu ter uma deficiência!
 
Por isso que eu dou a dica pra vocês, se joguem na vida sem medo, aquela pessoa bacana que vai vir pra somar na vida de vocês pode estar mais perto do que vocês imaginam!
 

Fonte: APNEN NOVA ODESSA: Como aplicativos de celular têm auxiliado a mudar a realidade romântica de pessoas com deficiência