Alguns vão dizer que Lenín Moreno, vitorioso no Equador, é o primeiro político que anda de cadeira de rodas eleito presidente.

A falta de memória abole da história Franklin Delano Roosevelt, imobilizado pela paralisia infantil e provavelmente o terceiro presidente mais importante dos Estados Unidos, depois de George Washington e Abraham Lincoln.

Outros políticos em posições de destaque usam a cadeira mágica para se movimentar e uma impressionante ausência de vitimização.

Wolfgang Schäuble é o poderoso ministro das Finanças da Alemanha. Demonizado pela esquerda alemã como duro demais quando foi ministro do Interior e como carrasco da Grécia por aplicar o princípio de que quem deve, paga, ele ficou paralítico por causa de um tiro, como o novo presidente do Equador.

Na verdade, foram três tiros, disparados por um jovem alemão que, apesar da motivação política explícita, acabou beneficiado por ser considerado mentalmente incapaz. O atentado foi em 1990 e seu autor saiu do presidio psiquiátrico  em 2004.

Schäuble, que voltou a trabalhar quando estava no hospital, recuperando-se dos tiros no rosto e na espinha, comentou secamente sobre a libertação de seu agressor que “a Justiça foi feita”. Como líder do Partido Democrata Cristão, ele teve uma grande chance de ser primeiro-ministro – perdida não por causa de suas condições físicas, mas pelo escândalo de financiamento de campanha  que atingiu o primeiro-ministro Helmut Kohl.

Devido a complicações de saúde decorrentes do atentado, apresentou renúncia duas vezes a Angela Merkel. Ela, evidentemente, recusou.

ÁRVORE E TERAPIA 

Greg Abbott, governador do Texas, ficou paraplégico em 1984 quando uma árvore enorme caiu sobre ele durante uma corrida num bairro de Housto, depois de uma tempestade.

Como bom advogado – e bom americano -, processou o dono da casa onde havia o carvalho de grande porte e ganhou uma indenização de 10 milhões de dólares. Parcelada: recebe 14 mil dólares por mês. Com dois fios de metal implantados na espinha, fez carreira no judiciário e se tornou procurador-geral do Texas, um cargo eletivo.

Como bom republicano, dedicou-se a desafiar a reforma do programa de saúde implantada por Barack Obama. Na época, resumiu assim sua rotina: “Vou trabalhar, abro um processo contra Obama, volto para casa”.

Wendy Davis, celebrada como heroína pela mídia progressista por uma tentativa de embargar restrições ao aborto no Texas, usou uma cadeira de rodas vazia numa propaganda política. A ideia era dizer que Abbott havia sofrido um acidente e conseguido uma  bela indenização – “desde então, passou a ignorar outras vítimas”. Perdeu a eleição para o governo do Texas por mais de 20 pontos.

Nem o alemão nem o texano costumam falar sobre as próprias deficiências. Lenín Moreno, ao contrário, atribui ao assalto que sofreu em 1998 uma transformação existencial.

O assalto: dois bandidos pediram a carteira e a chave do carro no estacionamento de um supermercado em Quito. Ele deu, mas mesmo assim levou um tiro pelas costas. Além de ficar paraplégico, sofria dores tão alucinantes que apelou para a pouco conhecida terapia do riso.

Desde então, escreveu vários livros sobre a importância do humor, das uma boa risada, das piadas. Abandonou a militância esquerdista tradicional e virou uma espécie de guru da autoajuda. Como vice-presidente do bolivariano Rafael Correa, criou projetos para ajudar os deficientes.

Fonte: O “leninista” eleito presidente e outros cadeirantes importantes | VEJA.com