Assim que quebrei o pescoço, uma de minhas maiores preocupações era a de não poder fazer mais sexo. Aliás, não voltar a ter prazer é um assunto que aflige muita gente que se depara com uma deficiência. Comigo não foi diferente. Por isso, na dúvida, quis tirar a prova rápido.  Fiz sexo na UTI.

A relação aconteceu durante uma das primeiras visitas de Paulo, que era meu namorado na época e a mesma pessoa que dirigia o carro quando sofri o acidente. Rolou na cama hospitalar, numa espécie de biongo cuja única privacidade se dava por um cercadinho de cortinas. Na ocasião, pedi para que ele me tocasse lá embaixo. E depois de muita insistência de minha parte, e já tomado de um misto de medo e tesão, ele começou a me beijar enquanto me tocava por debaixo do lençol.

Tudo que sinto hoje, sinto de outro jeito. São outros nervos que me trazem essa informação. É curioso, mas também não é regra para ninguém. O que importa é que a intensidade do prazer não muda. Aliás, até pode mudar se a gente quiser melhorar. Mas isso vale para tudo que experimentamos na vida.

Fonte: Mara Gabrilli, Sexo, deficiência – Tpm