Depois de um assalto em agosto de 2011, onde ficou tetraplégico ao ser violentamente agredido, o ex-segurança aposentado Alexandre Rozendo dos Santos, de 44 anos, a cada dia supera as expectativas médicas de que ele não sobreviveria. Após cinco anos de muita reabilitação, o paulista Alexandre Rozendo dos Santos, da cidade de Suzano, mora sozinho, conseguiu recuperar os movimentos das mãos e braços, e até pilota uma moto adaptada, uma de suas paixões. Em entrevista exclusiva para a Sputnik, Alexandre Rozendo dos Santos disse que não se lembra do assalto e da violência que sofreu, que o fez ter uma lesão medular.

“Eu não lembro de nada. O que me disseram é que fui encontrado em um local ermo, aparentemente um parque, um local que tinha areia. A única sensação que eu lembro é de estar com areia na boca e não movimentar mais nada. Sofri uma agressão que causou uma lesão medular, que triturou a quinta vértebra.

Até hoje o crime continua em aberto, como crime sem procedência, porque não se sabe o que ocorreu.” Alexandre contou que por conta da grave lesão, que também lhe gerou uma embolia pulmonar, os médicos não acreditavam em sua recuperação, quanto mais recuperar os movimentos. “Foi feita uma cirurgia muito delicada, da qual é um percentual muito pequeno de sobrevivência das pessoas, e quando sobrevivem é aquela limitação, eu ia virar um vegetal.”

ALEXANDRE ROZENDO/ARQUIVO PESSOAL Além de motocicletas, Alexandre tem também a paixão por Aeromodelismo e drones

Normalmente, as pessoas que se encontram tetraplégicas acabam ficando deprimidas, o que até interfere na melhora de seu quadro clínico, mas com o ex-segurança a história tomou outros rumos. Alexandre confessa que teve momentos de tristeza, mas com a ajuda dos familiares partiu para a reabilitação. “Desde o momento que eu abri os olhos e me vi num corpo diferente, uma pessoa diferente, naquele momento eu já não tinha mágoa no meu coração. Eu não guardei nada do que fizeram contra mim. Depois de tudo que eu passei, eu não tenho coragem de querer esse mal para a pessoa e nenhum familiar dele. Eu quero que essa pessoa viva muito e um dia se arrependa e faça o bem para o outro. No início eu não vou dizer que era perfeito. Eu tive embolia pulmonar também, que os médicos falavam que menos de 2% em cada 2 milhões de pessoas sobrevive. Eu fiquei na UTI por quase cinco dias.”

Ao receber alta do hospital Alexandre contou que não tinha movimento algum do pescoço para baixo e tinha que depender da ajuda dos irmãos e amigos, o que lhe deu mais vontade de reagir e tentar vencer as suas limitações. Após ficar em uma clínica de reabilitação, o ex-segurança retomou o movimento das mãos e braços a partir de março de 2012.

“Quando eu cheguei em casa eu não mexia nada. Do pescoço para baixo eu não sentia nada. Eu fiquei internado em uma clínica de reabilitação em São Paulo, e lá me deram a vida. Eu conheci caminhos que eu não fazia ideia. A maior motivação de quem sofre um trauma medular ou qualquer que seja o trauma é a expectativa. Até então você não tem nenhuma porque você não lembra mais como é andar, para fazer sua higiene as pessoas precisam te carregar no colo, você passa a não aceitar. A família é muito importante nesse momento e aí eu fui me redescobrindo, fui sabendo que eu podia mais e até hoje eu posso mais.”

Com a força de vontade Alexandre, além de pilotar motos, já consegue com ajuda de equipamentos dar alguns passos de pé. Ele ainda passa o tempo livre pilotando com controles manuais aeromodelos e drones. “Eu consigo me deslocar com um andador. O que a medicina prometia para mim eu fui bem além. Existe uma força maior e eu acredito na cura através da Fé.” Alexandre acredita que a sua maior força para superar é ter seguido em frente, sem ter ficado remoendo  a tragédia do assalto e é o conselho que ele dá para outras pessoas que estão passando pelo o que ele passou. “Se alguém te fez o mal e você desejar o bem, você vai colher o bem. Se você ficar remoendo o mal, porque até hoje todas as pessoas que eu conheço  vítimas de assalto, de algum tipo de violência todas elas estão no mesmo estágio, com uma lesão completa  e eu tento explicar para elas se você abrir seu coração, você vai conseguir, o meu corpo correspondeu. Eu não conseguia pegar uma folha de papel, eu não suportava o peso. Hoje se eu precisar colocar cinco quilos de arroz e eu ficar de pé e segurar o peso só em uma das mãos para guardar no armário eu coloco.”

No futuro, o ex-segurança, agora aposentado, almeja ainda entrar para o mundo do paradesporto, esporte para pessoas com deficiências físicas. “Eu sonho muito em conseguir ser um paradesporto, nem que seja para jogar peteca o bolinhas de gude, mas representar a nação de alguma forma, de uma forma positiva. Também sonho em ser um palestrante.”

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