Ricardo Shimosakai em visita técnica no Mini Mundo em Gramado, um dos destinos acessíveis mais bem preparados pela Turismo Adaptado

O mercado brasileiro de turismo faturou R$ 11,9 bilhões em 2014, de acordo com a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), valor 6,7% maior na comparação com 2013. Nos próximos seis anos, o setor deve receber investimentos que somam R$ 12 bilhões. Boa parte do contingente de viajantes é de pessoas com algum tipo de deficiência – situação que atinge quase 24% da população brasileira.

Quando se trata apenas de São Paulo, o Estado responde por 43,8% do faturamento com turismo no País e recebe 29% dos viajantes domésticos, segundo a Secretaria de Turismo paulista. São números que mostram o potencial do público a ser atendido, caso os empreendedores do segmento façam as adaptações necessárias para esse cliente.

Para o Conselho de Viagens e Eventos Corporativos da Fecomercio SP, no setor de viagens (tanto de lazer como corporativas), toda a cadeia produtiva, desde hotéis, companhias aéreas, empresas de transporte e demais, precisam estar preparadas para atender o viajante com deficiência. E não se trata somente de adaptações na estrutura física: tão importante quanto é a qualificação do atendimento na prestação de serviços.

Dois exemplos de empreendimentos que investiram no atendimento a pessoas com deficiência são a operadora Turismo Adaptado e os hotéis-fazenda Parque dos Sonhos e Campo dos Sonhos (localizados em Bueno Brandão-MG e em Socorro-SP, respectivamente).

O fundador da Turismo Adaptado, Ricardo Shimosakai, conta que abriu a empresa após sofrer uma lesão medular em 2001 e ser incentivado por amigos a preparar roteiros de viagens específicos para esse público, já que mesmo após perder o movimento das pernas não deixou de viajar. A empresa foi fundada oficialmente em 2004.

A operadora de turismo, apesar de não atender apenas pessoas com deficiência, recebe pelo menos um pedido de cotação por dia desse público específico. Os destinos mais comuns são praias e locais rodeados pela natureza, e o viajante costuma ir acompanhado de família ou amigos.

Para desenhar o roteiro, Shimosakai considera se as condições de acessibilidade do local escolhido estão de acordo com a vontade do viajante. Por exemplo, se o desejo é ir a uma cidade onde o transporte não oferece acessibilidade, ele sugere um destino similar, mas com opções mais viáveis – ou se o cliente está disposto a enfrentar algumas dificuldades, encoraja-o.

Ele diz que o melhor incentivo para os estabelecimentos tornarem os locais mais acessíveis é a demanda. “Se perceberem que as pessoas com deficiência estão tentando e indo, começam a pensar se o local é realmente adequado. Falo sempre para os clientes reclamarem se não gostarem de algo. Com educação, é claro. Mas dizer é importante, porque muitas vezes os estabelecimentos não percebem que não são acessíveis”, destaca.

No caso dos hotéis-fazenda Parque dos Sonhos e Campo dos Sonhos, o empreendimento participou de projetos – criados por meio de legislação – que visavam adaptar atividades de turismo de aventura para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e tornar acessíveis logradouros públicos.

Hoje, ambos são acessíveis. No Parque dos Sonhos, as 27 acomodações disponíveis, entre apartamentos e chalés, são adaptadas para diversos tipos de deficiências. Mais de 80% das construções têm rampas, o que facilita o deslocamento. Por todo o hotel há sistemas de corrimão, mapas táteis, placas em braile e pisos especiais com relevo para sinalização, entre outros itens.

Nas atividades oferecidas, grande parte é executada com equipamentos de acessibilidade, como a cadeirinha adaptada a pessoas paraplégicas e tetraplégicas usadas na tirolesa, selas especiais de cavalo, suporte para a tirolesa voadora e assento aquático para atividades feitas nas piscinas e na Cachoeira dos Sonhos.

Com isso, conta o proprietário José Fernandes Franco, o hotel acabou atraindo outros tipos de públicos, como idosos, pessoas com bebês e crianças pequenas e quem viaja com animais de estimação. As adaptações agradam todos esses segmentos, já que rampas facilitam a locomoção de carrinhos de bebês; a altura de camas e tomadas e barras de segurança no banheiro ajudam os idosos; e os quartos com canis integrados (originalmente criados para receber cão-guia) são favoráveis aos viajantes que levam seus animais.

“Acessibilidade é muito mais ampla do que imaginamos, e quando a incorporamos, resolvemos questões de maneira mais ampla. Qualquer lugar que recebe público está sujeito a hospedar vários segmentos”, comenta Franco. Com isso, em 2015, os dois hotéis receberam mais de 4 mil pessoas com deficiência e o nível de ocupação passou de 60% para cerca de 90%.

Fonte: Fecomercio e https://turismoadaptado.wordpress.com