Como luta ao preconceito, o projeto “Sou Mais Eu”, parceria entre o fotógrafo acreano Marcos Vicentti e o Centro de Apoio à Pessoa com Deficiência Física do Acre (Capedac), tem realizado ensaios com cadeirantes e amputados em
Rio Branco. A ideia é realizar uma exposição ainda este ano e confeccionar um calendário, cuja venda será revertida à causa.

Vicentti, que já atua no estado há 20 anos, conta que a ideia das fotos surgiu após um curso ministrado aos associados da Capedac. Pelo menos cinco pessoas já foram fotografadas, porém, o trabalho total deve ser composto por imagens de 25 modelos. A exposição está marcada para 3 de dezembro deste ano, Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.
“Eles [modelos] se veem super valorizados na fotografia. Passo duas ou três horas com cada um, seja realizando sonhos ou impondo desafios. Muitos vivem em casa, sem alternativa de saída, e o ensaio é uma maneira de estar trabalhando a autoestima”, diz o fotógrafo.
‘As fotos expressam quem sou’, diz fotografada
A funcionária pública Rebeca de Paula, de 31 anos, uma das modelos, diz que aceitou participar do projeto para mostrar à sociedade que, apesar da deficiência, não precisa viver escondida em casa. Ela lembra que teve a perna direita amputada após um acidente de trânsito em 2005. O cenário do ensaio foi um ferro velho.
“As fotos ficaram maravilhosas e expressam quem eu sou. Sou bem resolvida comigo, não tenho problema em usar bermuda ou vestido. Independente do que aconteceu [acidente], de ter ficado uma sequela grave, minha vida continua normal. Apesar das dificuldades do dia a dia, a vida continua”, diz.
Ubiratan dos Santos, de 38 anos, ficou paraplégico em 2013, depois de um acidente de motocicleta e, com o projeto, conseguiu realizar o desejo de voltar ao ambiente rural que tanto gosta. Antes da cadeira de rodas, ele trabalhava com gado.
“Foi uma experiência nova. Fazia tempo que não tinha contato com o campo. Antes do acidente, eu mexia com gado, animal. Depois que me acidentei, tudo parou. Disse ao fotógrafo que gosto desse meio e acharam melhor tirar as fotos em um rancho. Foi ótimo”, revela.
As fotos de Patrícia Nascimento, de 22 anos, foram feitas em estúdio. Assim como Santos, ela ressalta que foi uma vivência diferente e que gostou do resultado.
“As fotos ajudam muitos cadeirantes a ver a vida de outra forma, sem se acharem ‘coitadinhos’. Embora tenhamos necessidades, somos iguais”, fala. Ela sofreu paralisia infantil.
Casal de namorados é fotografado
Os namorados Maria Sirlene dos Santos, de 36 anos, e Manoel de Jesus, de 38, puderam eternizar o amor através das lentes de Vicentti. Ela também foi vítima de um acidente no trânsito e ele no trabalho. Fotografados juntos, os dois concordam que a iniciativa deve servir como importante meio de conscientização.
“No início senti vergonha, nunca tinha tirado foto, imagina com namorado. As fotos que vi ficaram muito boas. Certamente, o trabalho vai mostrar para sociedade que somos capazes de sermos felizes, viver e interagir em sociedade, independente de qualquer deficiência”, defende Maria Sirlene.
 
Campanha quer arrecadar R$ 25 mil para projeto
Para a produção do calendário em alta qualidade e da exposição, uma campanha colaborativa na internet tenta arrecadar R$ 25 mil para o Sou Mais Eu. Marcos Vicentti garante que o dinheiro será investido totalmente no projeto. Para colaborar, os interessados podem acessar a plataforma de financiamento coletivo (acesse aqui).
Edvânio Silva, presidente da Capedac, acrescenta que o Sou Mais Eu já tem possibilitado ao cadeirante desenvolver uma nova visão de si mesmo, se sentindo mais inserido e atuante. Além disso, ele acredita que o calendário vai gerar a reflexão sobre o preconceito.

“O cadeirante pode se redescobrir com um novo talento. Normalmente, quando uma pessoa vai parar numa cadeira de rodas, ela tem sempre o pensamento negativo de que a vida parou. Esse trabalho traz ao cadeirante uma nova visão de si mesmo. Alguns vivem isolados e isso abre um novo horizonte”, finaliza.