Instrutor de parapente faz campanha visando promover voos gratuitos para pessoas cadeirantes

Existe um lugar onde todos podem ser iguais. Com as mesmas capacidades, medos, sensações. Geziel Bezerra, 32 anos, sabe disso. E sonha em alcançar essa igualdade de condições. Cadeirante, ele alimenta um desejo antigo de voar. Está certo de que sua cadeira de rodas não é empecilho. Geziel tem razão. Em Pernambuco, um piloto com quase duas décadas de experiência lançou uma campanha de crowdfunding na plataforma kickante chamada Não consigo andar, mas posso voar. A ideia é promover voos gratuitos de parapente para cadeirantes que não têm condições de arcar com o custo do voo. O valor a ser alcançado é R$ 19 mil e o dinheiro arrecadado seria usado nos gastos com transporte, alimentação e adaptação de equipamentos.

Cláudio Cardoso, 47 anos, explica que seu projeto duraria seis meses e atenderia, em média, 50 cadeirantes. “Faríamos um passeio e um dia inteiro. O voo seria a cereja do bolo”. Ao longo da carreira, voou com pelo menos quatro cadeirantes. “A minha emoção é sentir a emoção do outro. No voo a gente fica focado porque não pode passar insegurança. Mas quando vejo os vídeos, chego a chorar de emoção”, conta.
O voo, segundo Cláudio, é seguro. “O medo é natural, mas o interessante é vencer esse medo. Na hora de voar, todos são iguais, cadeirantes ou não”, pontua. Para o piloto, a atividade é uma forma de ofertar aos cadeirantes uma nova visão de mundo. Muitos acham que essa possibilidade está distante da vida deles”.
O voo de parapente pode ser feito por pessoas de qualquer idade. O importante é ter mais de 40 quilos e menos de 100 quilos. A atividade acontece na Praia do Sol, no litoral sul da Paraíba, e em Vicência, no Agreste pernambucano. O local precisa ter condições de decolagem e pouso no mesmo ponto. O voo pode alcançar uma média de dois mil metros e custa cerca de R$ 200.
Ao longo da profissão, Cláudio conta nunca ter sofrido qualquer acidente com o parapente. O piloto tem uma empresa no ramo chamada Cloud, onde promove cursos e voos. A maior parte da clientela, conta, é formada por mulheres. Segundo ele, existe grande interesse de cadeirantes pela atividade. “Muitos não têm condições financeiras.
“Medo eu tenho, mas queria sentir a emoção, a adrenalina”, comenta Hugo de Souza, 33. Para Luiz Fernando Braga, 40, desafio mesmo é enfrentar as más condições da cidade para o cadeirante. Emídio Costa, 53, acredita que “lá em cima é todo mundo igual. Se eu tivesse medo, nem saía de casa”, brinca Emídio.
Cláudio Cardoso vai contar com a capacitação de um ano no Porto Social para ter sucesso na iniciativa. Ele é uma das 50 pessoas escolhidas para receber orientações na instituição ao longo de um ano para tocar projetos sociais junto aos mais diversos públicos. Além de estar à frente do Não consigo andar, mas posso voar, Cláudio também aposta no projeto Lixo Amigo. Sócio em uma empresa de criação de embalagens, ele conta sentir um peso na consciência quando encontra material que ele próprio idealizou jogado na rua, como lixo.

“O lixo pode voltar a ser a mercadoria que era no início do ciclo ou ser reaproveitado de alguma forma, após ser reciclado. Acredito ser possível gerar emprego e renda em comunidades carentes e ao mesmo tempo promover educação. Acho que se eles são beneficiados pela renda, passam a valorizar e perceber que existe um benefício real”, raciocina Cláudio Cardoso.

Quem desejar colaborar com a campanha para os cadeirantes pode acessar o endereço eletrônico www.kickante.com.br/campanhas/nao-consigo-andar-mas-posso-voar.