KELLY LOPES E OS SONHOS QUE SÃO VERDADE

 Kelly Lopes tem 33 anos, nasceu em Porto Alegre/RS, mas mora no Rio de Janeiro desde fevereiro de 2013.  É formada em Letras pela PUCRS e pós-graduada em Tradução em Espanhol . Além disso, Kelly trabalha no INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos) e é autora do blog Son Sueños… que son de verdad que é um diário onde ela conta as experiências e aventuras de ser uma pessoa com deficiência, já que ela ficou  paraplégica  em decorrência de um tumor na medula chamado Ependimoma (grau II). Ficaram curiosos para conhecê-la? Então se acomodem na cadeira e saibam mais a respeito de Kelly.

 KELLY LOPES - LAZER

Qual a sua deficiência? Desde quando você tem essa deficiência?

Minha deficiência tem o nome de “paraplegia espástica”.

 

Desde quando você tem essa deficiência?

 Tudo começou em 2011, quando descobri que tinha um tumor na medula chamado Ependimoma (grau II). Fiz uma operação em outubro do mesmo ano para retirá-lo. Ele já estava em estágio bem avançado de crescimento mas foi totalmente retirado após 11 horas de cirurgia. Após a operação os movimentos e a sensibilidade do tórax para baixo foram diminuídos. Pela localização do tumor, os braços também estariam comprometidos, mas não ocorreu.

 Com o tempo, e após várias sessões de fisioterapia, fui ganhando força e movimentos (muitos movimentos desencontrados na verdade, kkk… mas depois eles foram normalizando). Cada dia que ia passando eu conseguia fazer algo diferente, ou começava a sentir mais alguma parte do corpo. E é assim até hoje. O lado esquerdo do meu corpo eu movimento e sinto mais do que o lado direito.Em 2012 fiz o implante de uma bombinha de baclofeno, ele fica “instalada” na minha barriga e tem um catéter que leva medicação diretamente para a medula. Com a medicação chegando direto na medula facilita minha mobilidade e evita movimentos involuntários das pernas.

Como foi sua infância e adolescência?

 Normal, como de qualquer pessoa.

 

Qual a sua profissão?

Comecei a trabalhar com 20 anos, assim que saí do ensino médio. Primeiro como telemarketing, depois como assistente administrativo.  Depois da operação fiquem afastada quase três anos do trabalho. Atualmente sou funcionária pública, trabalho no INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos).

 CADEIRANTE NA PRAIA-CASADAPTADA

Como é sua relação com os demais colegas de trabalho?

Como é um órgão que se preocupa com inclusão, não tive muita dificuldades para me adaptar ao local. Meus colegas de trabalho são todos muito prestativos, sempre que preciso de algo, ou “aquela ajudinha” para subir alguma rampa, abrir alguma porta, eles estão lá, prontos para ajudar.

 

Para você como é ser mulher com deficiência num país, cujo padrão de beleza é o da barbie ( que é ser magra, alta, peituda, saudável, jovem, loira e ter um corpo “perfeito”)?

Os padrões de beleza são cruéis para qualquer mulher, esteja ela com alguma deficiência ou não. O importante é a pessoa gostar de si mesma.

 KELLY LOPES - TUMOR NA MEDULA

E como você cuida da sua beleza?

 Muitos salões não tem acesso, outros já estão se preocupando com este público, tem de tudo por aí. Vou ao salão muito de vez em quando, exatamente por causa da falta de acesso. Acabo fazendo hidratação nos cabelos em casa mesmo. Cuido da pele, eu mesma faço minhas unhas, é uma terapia… 😉 Não curto muita maquiagem no dia a dia, mas se precisar me viro bem.

 

 E quando o assunto é a sexualidade das mulheres com deficiência, ainda existem muitos empecilhos? Quais?

Ainda há muito preconceito. As pessoas pensam que quem tem deficiência é assexuado, não pode e/ou não consegue ter um relacionamento, que não pode casar, que não pode ter filhos. Claro que pode, gente! O desconhecimento das pessoas as levam pensar coisas absurdas sobre as pessoas com deficiência. Antes de julgar, procure se informar!

 

No tocante a saúde da mulher com deficiência, os consultórios ginecológicos estão preparados para nos receber?

Não só os consultórios ginecológicos, mas também os demais consultórios não são preparados para atender quem tem dificuldade de locomoção. Quando vou marcar alguma consulta além de perguntar horário e dia para atendimento, tenho que verificar se o local possui rampa, elevador…. as vezes até passo a medida na minha cadeira de rodas para ver se vou conseguir entrar no consultório. É bem difícil encontrar consultórios com acessibilidade, mais difícil ainda é encontrar um lugar acessível que tenha banheiro adaptado. Tudo isso tem que ser bem calculado, pois posso precisar ir ao banheiro no dia da consulta e tenho que ter um plano B se o local não oferecer um banheiro em que eu consiga entrar.

 PISCINA - CASADAPTADA

Que recado você deixa para nossos gestores e para a sociedade em geral, incluindo os que visitam a Casadaptada?

Espero que o mundo no geral se preocupe mais com a acessibilidade. Pessoas com mobilidade reduzida também tem o direito de ir e vir, faz parte da nossa qualidade de vida. As vezes não é preciso muito, uma rampa, um banheiro um pouco mais largo, uma barra de apoio… são ações simples que facilitam muito a nossa vida. Muito obrigada Casadaptada pela oportunidade!  😉 

 

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 CADEIRANTE NA PRAIA