BENOMIA REBOUÇAS, UMA MULHER COM OSSOS DE CRISTAL E NERVOS DE AÇO

 

Benomia Maria Rebouças, 44 anos, natural de Boa Viagem-CE, nasceu com “Osteogênes Imperfecta”, também chamada de Ossos de Cristal e por isso nunca andou. Entretanto, é uma mulher determinada e guerreira, que só passou a frequentar a escola com 27 anos. E hoje é formada em Pedagogia, funcionária pública estadual e ativista do Movimento de Luta das Pessoas com Deficiência, na cidade de Mossoró- RN.

 

Fale-nos de sua infância.

Tive uma infância rodeada de muitos cuidados por parte da família, pois a deficiência me levava a ter muitas fraturas dos membros inferiores e superiores, durante a infância, com isso veio a superproteção e fui privada do meu direito de estudar quando criança. Em casa brincava com minha irmã mais nova e minhas primas, sempre fui uma criança alegre e falante, deve ser por isso que gosto de falar bastante.

Durante esse meio termo fui crescendo sendo alfabetizada por minha mãe, aprendendo ler e escrever.

E como foi sua adolescência?

Durante esse meio termo fui crescendo sendo alfabetizada por minha mãe, aprendendo ler e escrever. Na adolescência nada mudou muito pelo contrario, continuei na luta dentro de casa para mostrar que eu podia fazer muitas coisas, que para a família era impossível.

CADEIRANTES - DIA DAS MULHERESNos relate, um pouco, a respeito de sua vida escolar e acadêmica?

Como minha vontade de estudar era muito grande, passei a ler bastante e pegar carona no material escolar da minha irmã, e fui aprendendo história, geografia, matemática. Com 27 anos, resolvi contrariar a todos e procurei uma escola para estudar, e me aceitaram como ouvinte por não ter histórico da 1ª à 4ª serie, passei a fazer a 5ª série como ouvinte e no final do ano a escola foi orientada pela secretaria de educação em fazer uma avaliação e atualizaram o meu histórico escolar.

CADEIRANTE - MOSSOROJá podia me matricular na escola para fazer à 6série, pois tinha passado por média, na busca para correr atrás do tempo perdido, solicitei a minha transferência e me matriculei num Centro de Educação de Jovens e Adultos, me matriculei em duas modalidades oferecidas pelo centro e em dois anos estudando tarde e noite, conclui os meus estudos.

Fiz vestibular para Pedagogia em 2005 e em 2006 ingressei na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, passando em primeiro lugar.

Qual a sua profissão?

Após terminar a universidade passei num seletivo para professor contratado e ingressei também no Estado como Professor contratado, trabalhei dois anos, em seguida abriu o concurso no qual eu fiz e fui aprovada para supervisão escolar. Atualmente trabalho na Escola que eu estudei e terminei meus estudos atuando como supervisora e professora dos alunos com deficiência.

Como é sua relação com os demais colegas de trabalho?

Sempre tive muita facilidade de me relacionar com as pessoas, mas também observo e vejo como as pessoas constroem um conceito pré definido das pessoas ou daquilo que não conhece. No inicio quando cheguei à escola como professora contratada, fui muito bem recebida, mas sentia no olhar das pessoas um olhar de duvida, será que ela é capaz?

E como sempre mais uma vez tive que provar que era capaz. Antes de terminar meu contrato passei no concurso e solicitei afastamento do cargo. Atualmente trabalho na supervisão escolar.

OSSOS DE VIDRO - MULHERParalelo ao meu trabalho estou na luta pela inclusão das pessoas com deficiência, militante há mais de 20 anos, busco que as pessoas com deficiência hoje tenham mais oportunidades do que eu tive e com isso consigam seu espaço na sociedade.

Como você cuida da beleza?

Como mulher eu sempre busco mostrar que sou, linda e bela, muito vaidosa, chamo atenção, gosto de ir ao salão toda semana, e ter sempre um guarda roupa renovado, gosto de me sentir bem.

Amo ir a praia, cinema e teatro, assim como barzinhos para ouvir uma boa musica, vejo muitas vezes os olhares dos homens de admiração, e tenho certeza que a mulher com deficiência que se cuida, que gosta de se e mostra alegria de viver, tem muito mais chance de ser feliz e realizada.

E quando o assunto é a sexualidade das mulheres com deficiência, ainda existem muitos empecilhos? Quais?

Estou coordenando há 3 anos um movimento livre conhecido como Fórum de Mulheres com Deficiência de Mossoró e Região, que tem como objetivo principal elevar a alto estima da mulher com deficiência e quebrar o paradigma que a mulher com deficiência é diferente das outras mulheres.

Tenho vivido isso na pele, ao notar o olhar do homem que não tem deficiência e você se aproxima com intenção de conhecê-lo como homem, na maioria das vezes ele quer só amizade, pois não acredita que você seja igual às outras, ver sua condição de deficiência uma barreira ou até mesmo tem medo de magoar por achar que somos mais frágeis ainda.

DEFICIENTE- MULHERSó vamos conseguir desconstruir essa visão quando passarmos a conviver, mas vejo que nem todas conseguem insistir e ir até o fim, muitas vezes se frustrando com isso tendo a sua alto estima jogada no chão.

A sexualidade da Pessoa com deficiência é uma das barreiras ainda existentes no meio das famílias e sociedade, como ver uma mulher com deficiência e cadeirante sendo mãe, não podemos namorar. E os motéis nunca são acessíveis porque a visão é que jamais uma cadeirante vai ao motel, já que ela não é uma pessoa com as outras, não tem desejos, não tem libido, não tem sentimentos.

No tocante a saúde da mulher com deficiência, os consultórios ginecológicos estão preparados para nos receber?

Como falar que a saúde das pessoas com deficiência esta bem, se a saúde do pais esta doente e quase morrendo, se você pensa num hospital sem leitos, imaginem um hospital acessível? Impossível, pois as camas para exames, não são acessíveis a cadeirante, sofremos constantes constrangimentos para ser colocadas nas camas de exames, e quando não falam que estamos gordas por ser pesadas fazendo nos sentir ainda mais desestimuladas.

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