Técnica foi desenvolvida com Marcelo Yuka; ela também tem método para pessoas com câncer
 
Luciana Lobo dá aula para o paratleta Jean Sampaio, apoiado em um suporte desenvolvido por ela – Júlia Amin
 
POR JÚLIA AMIN
 
RIO — A ioga tem cinco princípios básicos e universais. O primeiro e mais importante é a não violência. Para a professora e instrutora Luciana Lobo, o fato de a prática não ser acessível para pessoas com limitações físicas já é uma forma de desrespeitar esse fundamento. Pensando nisso, ela se especializou em ioga restaurativa — que busca relaxamento físico, mental e espiritual —, principalmente para cadeirantes, e abriu, em março, um estúdio em Botafogo, o Yogapics. No dia 18 de agosto, realizará um aulão para pessoas com cadeira de rodas, das 10h ao meio-dia. Há, ainda, aulas individuais e para grupos de até cinco participantes com seus acompanhantes.
 
Luciana faz questão de frisar que a atividade envolve muito mais do que força e flexibilidade. Respiração, concentração, meditação, postura e também a filosofia do exercício são pilares importantes e que podem ser seguidos por qualquer pessoa. Ela atentou para isso quando, em 2006, participou de uma reunião com Marcelo Yuka, ex-baterista do Rappa, e percebeu o quanto ele ficava incomodado e desconfortável em sua cadeira de rodas. Saiu do encontro, alugou um modelo semelhante ao do músico e fez um manual de como melhorar a postura. Em seguida, marcou uma conversa com ele e apresentou seu projeto.
 
— Eu pensei: essa menina está louca, meu corpo está todo acabado, como é que ela vai fazer ioga com deficiente? Mas ela apostou mesmo. Falei que não tinha dinheiro e ela disse que viria de graça. Luciana foi criando uma metodologia comigo de acordo com o que ela via das minhas necessidades básicas e em relação às dores que sentia. Foi incrível. Passei a dormir melhor e comecei a meditar — conta Yuka.
 
O paratleta Jean Sampaio é outro entusiasta. Optou pela prática em busca de bem-estar e relaxamento, e ficou impressionado ao perceber como a técnica criada por Luciana respeita seus limites físicos e traz conforto ao corpo. A professora adaptou cada aula às condições de seus alunos e desenvolveu um suporte para que tanto cadeirantes quanto pacientes oncológicos pudessem ficar em cinco posturas diferentes no solo de forma confortável. Ela também tem turmas especiais para pessoas com câncer.
 
— A ideia é que levem o aprendizado para a vida e pratiquem todos os dias em suas casas. As células estão vivas dentro do nosso corpo, então, se você coloca a tensão no pé, por exemplo, manda estímulos para aquela região. É um benefício para o corpo, a mente e a alma — resume Luciana.