Por Malu Magalhães
Eu não devia ter 4 anos completos quando me tornei fã do Marquinhos Moura. Algumas lembranças e muitas histórias dizem respeito à minha paixão pela música “Anjo azul”, uma composição dele que, atualmente e com certeza, entraria para o rol das músicas de sofrência. Também lembro de ouvir “Volta pra mim” (Roupa Nova) e “Quatro semanas de amor” (Luan e Vanessa) e sentir o coração acelerar; isso por volta dos meus 7, 8 anos. Como pode, né? Mal tinha saído das fraldas e já me identificava com versos que relatavam saudade, perda, dor de amor… A verdade é que sempre fui a garotinha romântica da casa e da turma de amigas no colégio. Cresci sendo a moça da carta de amor e, também, a alvo dos foras, seja o gritado a plenos pulmões ou o dito educadamente através do “você é uma boa amiga”.
O doloroso nesse processo de descoberta do amor, todavia, nao foi a rejeição em si, e muito menos o vácuo em resposta às minhas ingênuas declarações. Não. O que realmente doeu, e isso por muito tempo, eu confesso, foi o tomar a consciência de que o problema estava na minha condição de pessoa com deficiência, em algo que eu jamais poderia mudar, e que, portanto, terminaria por me condenar a uma vida de solidão. Pelo menos foi essa a perspectiva que muitas pessoas me passaram e foi nela que por muito tempo eu acreditei. E lamentei. E questionei. E, mesmo sofrendo, rebeldemente aceitei. Como um bom paradoxo, rebeldia não combina com aceitação, certo? E graças a Deus foi essa forma de me portar diante do que me desenharam como sendo o meu destino, o que me trouxe até aqui.
Explico: se, por um lado, eu entendi que a minha deficiência física era um grande obstáculo à minha vida afetiva, sentimental, por outro eu nunca deixei de sonhar com um relacionamento, de acreditar que em algum lugar existiria alguém que não veria nas minhas limitações um problema; e, que pelo simples fato de essa pessoa existir, o fato de eu não estar dentro do padrão de beleza imposto pela sociedade funcionava nada mais, nada menos, como uma espécie de filtro que afastaria de mim qualquer pessoa que não fosse especial. Foi esse modo de perceber a minha condição que fez com que eu mantivesse a esperança viva e, principalmente, o meu coração aberto. Se me perguntarem como vivenciei essa espera, respondo que o fiz do melhor modo que me foi possível.
Como o Brayan e muitas pessoas com deficiência, também vi na internet uma possibilidade. Mas não imaginem que isso é algo que a gente faz de caso pensado, tipo chega um momento e a gente decide: “pronto, vou procurar namorado/a!”. Não. É uma descoberta que vai acontecendo naturalmente. Você conhece uma pessoa, conversa, descobre afinidades, faz amizade e, às vezes, acontece dessa amizade evoluir… Claro que, como no contato pessoal, também existe muita confusão… Pessoas que vivem amores platônicos ou não correspondidos, que traem e enganam, que são os famosos embustes; mas também existem pessoas sinceras, que dividem afeto, que compartilham amizade e amor verdadeiro. No meu caminho eu encontrei um pouco de tudo, até mesmo um embuste, que no fim das contas foi o que me fez aprender a separar o joio do trigo e, de certa forma, acabou me preparando para o encontro que mudou a minha vida.
Brayan e eu sempre conversamos sobre o fato de que nos encontramos no momento certo, no momento em que nós dois já estávamos relativamente preparados para embarcarmos num relacionamento e lidarmos com todos os ônus e bônus emocionais que este pode proporcionar. Não se enganem! Nem de longe somos um casal modelo, certinho e 100% paz e amor. Aliás, Catarina e Petruchio nos definem muito bem (quem lembra?). Isto à parte, costumo pensar cá aqui com os meus botões, que ele representa a versão do Programa de Aceleração do Crescimento feita sob medida para mim. Com o Brayan a melhor parte da Maria Luíza vem à tona e só se fortalece. Por ele eu saio do mundinho pequeno, que gira em torno do meu EU, e passo a viver no nosso mundo e a pensar primeiramente em NÓS. Assim a gente chegou até aqui. E o melhor de tudo é que, juntos, a gente segue se ajudando, aprendendo e vivendo. Vivendo plenamente tudo aquilo que o olhar dos outros, este sim deficiente, tentou por diversas vezes nos negar.

Source: True Love