por Tulio Mendhes
 
 
– “Túlio, qual a maneira certa de chamar um deficiente?”. (SIC)
 
Essa dúvida “atormenta” a cuca das pessoas desde o surgimento do primeiro “homem sapiens e da primeira mulher sapiens” com deficiência! (Tudo bem rolou uma dose de exagero aqui, mas que há tempos essa questão vem sendo discutida, isso é um fato). Eu já escrevi aqui sobre a terminologia politicamente correta quanto ao tratamento da pessoa com deficiência que, aliás, acabei de citar tal “regrinha”. Contudo, recebo frequentemente pedidos pra que eu reforce sobre o uso dessa terminologia. Então decidi reciclar um material sobre o tema “repostando” o texto do dia 20 de julho de 2017. Compreenda:
 
TERMINOLOGIA, o que é isso? Bom, segundo o dicionário Aurélio é um “tratado dos termos técnicos de uma arte ou ciência; conjunto de termos técnicos; nomenclatura”.
 
Esse significado lindinho é muito querido por grupos considerados minorias, no caso de hoje, os deficientes, opa… Errei, digo PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. Esse grupinho VIP do INSS, das cotas em universidades, das filas preferenciais, cotistas no mercado de trabalho etc. gostam de ser chamados de acordo com a terminologia adequada, ou seja, PESSOA COM DEFICIÊNCIA, RESUMIDA NA SIGLA PCD.
 
De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil ratificou com valor de emenda constitucional em 2008 que é totalmente inadequado o termo “pessoa portadora de deficiência ou portador de deficiência”. Por quê? Simples, nós não portamos, não carregamos nossas deficiências, simplesmente as temos e, antes de termos a deficiência, somos pessoas como qualquer outra”. Até que essa justificativa é totalmente plausível no sentido amplo da coisa. Ou seja, o uso adequado da terminologia de acordo com as deficiências “funciona” mais ou menos assim:
 
Cadeirantes, amputados, ostomizados etc = (Pessoa com Deficiência Física)
Autista = (Pessoa com TEA) Transtorno do Espectro Autista
Síndrome de Down = Pessoa com Deficiência Intelectual
Surdos = Pessoa com Deficiência Auditiva
Cegos = Pessoa com deficiência visual
 
E assim por diante. Com a preocupação de facilitar os processos pedagógicos, médicos, jurídicos, sociais etc cada tipo de deficiência deve ser “pronunciada” de acordo com a terminologia correta, sempre colocando a PESSOA COM DEFICIÊNCIA em primeiro lugar, seguido da própria deficiência. Enfim…
 
Compreendido isto, exponho minha opinião. Acho tudo isso muito frufruzento e cheio de “mimimi” desnecessários. Já falei sobre isso e falarei quantas vezes forem necessárias.
 
– “Como devo chamar um cadeirante?”.
– PERGUNTE O NOME DELE! Simples demais minha gente.
 
Com toda a certeza assim como eu sou cadeirante, uma parcela da elite “mimizenta” discorda de mim.
 
– “Ai eu acho falta de respeito”; “Isso é um absurdo”; “O Túlio não me representa, “Fora Dilma, fora Temer, fora Túlio”… blábláblá…
 
Eu luto por igualdade. Quero ser tratado como igual num todo. Com direitos e deveres, sem frescuras, sem “dorzinha” e sem vitimismo. Se eu e o Joãozinho trabalhamos no mesmo local, temos o mesmo cargo e seremos apresentados aos novos colegas, quero que nos apresentem assim: – “Pessoal, esse aqui é o analista “Joãozinho”. Esse aqui é o analista “Túlio Mendhes”.
 
Não quero ser apresentado como: – “Esse aqui é a pessoa com deficiência física e analista Túlio “coitadinho”, ele é o mais fraquinho da equipe, por favor, o respeitem. Não pode chamar a atenção dele, ele pode trazer 1000 atestados, o intervalo de quinze minutos ele pode fazer em uma hora, ele tem direito de chegar atrasado, porque usa cadeira de rodas, por favor, respeitem nosso colaborador pessoa com deficiência. Ah e pelo amor de Deus, cuidado pra não brincarem chamando-o de cadeirante, aleijadinho, baixinho, nunca fale pra ele ANDAR de pressa, jamais pronunciem que ele ANDA aprontando todas etc. Não queremos receber mais um processo, pois o defici (…) a pessoa com deficiência que trabalhou aqui anteriormente levou a gente no “pau”. CUI-DA-DO!
 
– “Ah Túlio, mas você está generalizando e exagerando!”.
Acredite leitor, não estou. Vivo levando “puxadas de orelha” pela elite que não anda, não enxerga, não fala, nem ouve, raciocina, resumindo… pelos deficientes mais chatos que espinha dentro do nariz. Preciso esclarecer uma coisa. Atenção…
 
Não chamem o cadeirante de cadeirante, pois as pernas dele vão parar de funcionar se você o tratar assim. O surdo vai ficar mais surdo se chamado de (adivinhe), o cego vai perder a visão se você chamá-lo de? (Isso mesmo que pensou).
 
Quando eu digo que não me importo em ser chamado de aleijadinho, coxo, cadeirante, paraplégico, estou afirmando que EU NÃO ME IMPORTO. Nenhuma terminologia mudará minha condição física. EU, euzinho, “euzão”, “euzérrimo” Túlio, “Túlinho”, “Túlião”, “Tuliérrimo” continuarei sem andar. Simples, não?
 
Não sou contra terminologias. Concordo sim com o uso adequado, mas em momentos adequados. Entenda: Doutor tem doutorado. Bacharel fez bacharelado. O mestre fez mestrado. O cadeirante, não anda. O cego é cego. O mudo não solta uma palavrinha. Quer mais fácil que isso?
 
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA devem ser chamadas pelos NOMES que contam em suas certidões de nascimento ou se, o colega deficiente opta por outro gênero chame-o pelo nome social. Não é difícil, gente!
 
O presidente da república, o coordenador do curso na faculdade, o reitor, o prefeito devem usar a terminologia PCD (pessoa com deficiência) em seus discursos, notas, pronunciamentos. Isso é adequado. Contudo, o Zé da oficina, a tia da cantina, o jardineiro do condomínio, a cobrador do ônibus, os meus amigos, meus médicos, professores, você, não precisa de formalidades quando falar sobre mim. Diga apenas o TÚLIO é “phoda”, o TÚLIO é lindo, o TÚLIO é esperto, o TÚLIO é legal e o mais importante o TÚLIO é tímido, modesto e muito “Ómilde”.
 
Mais uma vez, reforço que terminologia é uma coisa, frescura é outra. Defendo a idéia de não sermos chamados de “portador de deficiência”, “portador de necessidade especial”, afinal não portamos nada e o que portamos tá financiado e os juros do cheque especial tá comendo.
 
Esclareço pra galera da nação brasileira que gosta de aprender e acima de tudo que não é “mimizenta”: no momento em que o uso adequado de terminologia referente aos deficientes for exigido, JAMAIS usem o termo “portador”, pois implica em algo que se “leva, carrega, segura, porta”.
 
Afinal, eu mais uma vez em toda minha “ómildade” e modéstia me coloco como exemplo: “Túlio não é portador de beleza, Túlio é belo. Túlio não porta simpatia, Túlio é simpático.”. Portar eu porto talão de cheque, cartões de crédito, porto um amor reprimido (mentira, isso é brincadeira hein, acredite, ou não).
 
Entretanto pra não ficar a impressão de que eu sou o radical da “tchurma” com defeito de fábrica ou vítimas de sinistros, explico um fato.
 
A maioria dos idosos que tenho ou tive um vínculo, quando falam de mim como deficiente, eles usam termos como “aleijado”, “inválido”, “incapacitado” ou algo do tipo. De maneira alguma isso me ofende. Eles foram educados, “criados” ouvindo esse tipo de pronúncia referindo-se a nós, pessoas com deficiências. As mudanças começaram acontecer em meados da década de 80. Essas palavras “grosseiras”, “brutas” foram substituídas pelo termo “deficiente”, essa migração terminológica deu-se em razão da influência do Ano Internacional e da Década das Pessoas Deficientes, estabelecida pela ONU em 1981. Desde então, algumas mudanças aconteceram com certa velocidade. De “pessoa portadora de deficiência” ou “portadores de necessidade especial” a década de 1990 foi marcada com a terminologia que estamos discutindo. PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
 
– “Ah Túlio, mas por que não posso falar pessoa com necessidade especial?”
– Vamos lá! A única necessidade especial que eu tenho e urgentemente é de uma casa própria, dinheiro na conta, lançar meu livro, uma viagem pra o Egito, Canadá, New York, Dubai, Argentina, Caribe etc. Só isso. Vai me dizer que você não tem nenhuma necessidade especial?
 
É inadmissível a discriminação, desrespeito, segregação no que diz respeito às pessoas com deficiência. Esse é o motivo de eu vir aqui repetir o tema “TERMINOLOGIA”. Não mudo meu ponto de vista quanto ao excesso de frescura no cotidiano, mas ressalto que o TÚLIO MENDHES é maior que a cadeira de rodas, o BRUNO ARAÚJO é um cego “phodão”, a MARIA é linda e autista. Sempre coloque em evidência a PESSOA.
 
Lembre-se que a pessoa com deficiência é, superior a sua deficiência. É simplesmente uma PESSOA. 
 
Fonte: g1.globo.com