Especialista aborda a importância dos cuidados com a saúde bucal de pessoas com PC (Foto: Divulgação)
Por: Matheus Racy Mariusso*
A partir dos novos conhecimentos e de uma visão mais humana que a área da saúde tem utilizado, busca-se um atendimento extremamente individualizado, analisando cada paciente como um ser humano único. Desta maneira é importante não generalizar as informações, especialmente se tratando da saúde bucal de pessoas com paralisia cerebral, já que esta condição pode acometer os pacientes em diferentes graus e com diferentes sequelas.
Entretanto, as pesquisas e a rotina clínica nos mostram comportamentos e acontecimentos semelhantes nestas pessoas, o que pode nos orientar, guiar e gerar diretrizes para fornecermos uma melhor qualidade de vida. Portando é necessária que estejamos atentos para promover e manter a saúde bucal destes pacientes.
Cuidados especiais
O que podemos observar nestes pacientes é uma maior frequência de problemas bucais do que na população em geral. Dentre eles, a cárie, doença periodontal (das gengivas e dos tecidos de sustentação dos dentes), problemas de oclusão (mordida) e dentes quebrados por traumas, entre outros.
Isso se deve a diversos fatores que são inerentes à paralisia cerebral, como salivação, musculatura, atrofia de algumas estruturas e uso continuo de medicação, além das dificuldades que muitos cuidadores, sejam eles familiares, amigos ou profissionais, têm de higienizar os dentes e a cavidade bucal.
Além disso, ter um dependente com paralisia cerebral, muitas vezes, gera um grande desgaste físico e emocional, o que acarreta em deixar os cuidados bucais para segundo plano.
Outro ponto crítico é que muitos cuidadores desconhecem, ou até mesmo, desacreditam da possibilidade de um tratamento odontológico tranquilo e de sucesso, sendo que a procura se torna tardia, quando muitos problemas já se agravaram e requerem um tratamento mais invasivo.
Como acompanhar?
Neste cenário, é importante ter um profissional da odontologia que trabalhe como parceiro da família, desde o nascimento da criança, para que possa entender a sua realidade e adapte os cuidados para que estes se tornem viáveis. Isto porque todos estes problemas que acontecem como maior frequência, como já foi dito anteriormente, podem ser prevenidos.
Porém, é importante ressaltar que nunca é tarde para procurar atendimento, pois a saúde bucal está intimamente ligada à saúde sistêmica, e independente da necessidade ou da amplitude do tratamento a ser realizado, é possível encontrar alternativas para todos os pacientes.
Desta forma, assim como em todas as outras áreas, é preciso acreditar e procurar profissionais que trabalhem em parceria e de maneira multiprofissional, pois o sucesso dos tratamentos e a obtenção de uma boa qualidade de vida dependem destes fatores. Por mais que a vida corrida e as inúmeras responsabilidades de cuidar de alguém com paralisia cerebral ocupem nossa rotina, não se pode esquecer da saúde bucal pois ela é de fundamental importância para qualquer ser humano. Independente de qualquer condição, a vida nos da, diariamente, inúmeros motivos para sorrir, e é preciso também dar possibilidade para que isso aconteça.
Foto: Naira Martins
*Matheus Racy Mariusso é cirurgião-dentista e palestrante. Mestre em Odontopediatria, atua com crianças e pessoas com deficiência, buscando fortalecer o elo entre saúde, qualidade de vida e inclusão.
Fonte: portalacesse.com