A gravidez é um momento mágico onde o sentimento de amor transborda… Mas ao mesmo tempo, as mães ficam mais sensíveis e precisam que todos em sua volta as mantenham tranquilas e relaxadas para que nenhum sentimento ruim seja passado ao bebê.
 
Mesmo depois de seu filho já ter nascido, a fase do desenvolvimento da criança também é marcada por momentos delicados. “Será que estou sendo uma boa mãe?… Estou conseguindo ajudar o meu filho a se desenvolver como deveria?”
 
Quando surgem essas dúvidas e anseios, é aos profissionais da saúde que procuramos apoio, é neles que depositamos total confiança sobre nossas vidas e de nossos filhos.
 
Mas, o que fazer quando até os profissionais são preconceituosos/capacitistas, e não possuem conhecimento algum sobre a gestação, e desenvolvimento de bebês, das mamães com deficiências?
 
Em uma conversa num grupo de mulheres com AME (patologia genética), várias mães aceitaram dar seu relato para falar sobre situações que vivenciaram, pois todas sabem da grande importância e necessidade deste assunto ser debatido.
 
 
Kelly* havia recém se casado e começou a consultar profissionais para saber sobre a possibilidade de ser mãe. Porém, logo no início deste sonho, ela foi desmotivada pelo seu ginecologista.
 
“… Lembro de ter escolhido consultar-me com ele por ele ser chefe do setor de gravidez de risco de um hospital aqui da minha cidade, achando que ele tivesse maior conhecimento…
 
Mas, ao me consultar, ele foi terminantemente contra, dizendo que não tinha como prever os efeitos da gravidez nos meus movimentos e que depois que nascesse, os movimentos poderiam não voltar… Aí completou dizendo que nem pílula era aconselhável e que meu marido tinha que fazer vasectomia para não correr o risco…
Com isso, nem conversássemos mais sobre gravidez nesses anos todos… meu marido, por se preocupar muito comigo, chegou consultar com um urologista para marcar a cirurgia… graças à Deus o médico falou que não faria de jeito nenhum!…”
 
Kelly e seu marido consultaram outros profissionais e decidiram tentar… Logo que descobriu que estava grávida, ela contou para sua médica neuropediatra com qual tinha há anos uma relação de amizade. Mas logo depois que a médica recebeu a notícia, ela acabou se afastando por não concordar que Kelly engravidasse, cortando todo vínculo que tinham.
 
Hoje seu bebê é recém nascido, mas infelizmente o preconceito e a falta de qualificação destes profissionais ainda sobressaem. 
 
Vejam o relato de Kelly:
 
“…Tive um episódio que me abalou muito enquanto minha bebê estava na UTI neonatal por ser prematura… Eu estava abaladíssima e a médica veio falar pra mim que eles desconfiavam a necessidade do Cpap naquele momento poderia ser por causa da Ame! Dando a entender que era “por culpa da minha deficiência” que ela estava usando o aparelho, mas hoje sei que é um procedimento comum que fazem em qualquer criança prematura.
Nossa! Vocês não imaginam como foi isso pra mim! Parecia que um míssil tinha caído sobre a minha cabeça!… Mas hoje já estou em casa com ela, e ela respira sem dificuldade alguma!…”
 
O que era pra ser um momento mágico, acaba se tornando um momento de aflição!
 
É o que acontece com Andréia, mãe de um bebê de 11 meses, que diz que não se sentir confortável ao pensar e falar sobre o assunto por ter sofrido tanto preconceito vindo da própria pediatra que atendia o bebê nos primeiros meses:
 
 
“…Pelo meu filho ter nascido prematuro e hipotônico devido a falta da minha carnitina durante a gestação, já era sabido que ele ia demorar um pouco mais a fazer as coisas… E assim foi, ele demorou um pouco mais para sentar, ficar de bruços… Eu sabia que isso era normal, mas, a pediatra dele nunca aceitou. Sempre disse que o desenvolvimento tardio dele nada tinha a ver com a prematuridade ou os problemas no nascimento, mas sim, por eu ser cadeirante e não estimular ele! Por mais que eu falasse, explicasse que fazia tudo com ele em casa, ela não acreditava… A situação foi ficando tão insuportável que nas últimas consultas, deixei só o pai levar ele…”
 
 
A condição física das mães com deficiência acaba não sendo o principal motivo pelo qual passam por tudo isso, mas sim, pela falta de informação e pelo capacitismo dos profissionais da saúde e de todas as outras áreas.
 
Rafaela* também comentou algo importante e que deve ser assunto de reflexão:
 
“…Podemos notar que o preconceito já acontece no momento em que chegamos a um consultório médico, muitos não são acessíveis, não possuem macas adaptadas e nem aparelhos que nós, mulheres com deficiência, podemos usar facilmente. Com isso percebemos que não somos lembradas e nem vistas como parte dos pacientes…
E esse desinteresse, também reflete no comportamento e julgamento dos profissionais da saúde… Precisamos urgente de profissionais qualificados para nos atender… Em TODAS as vezes que vou em um consultório médico, ou hospital, eu sempre escuto alguma frase preconceituosa que me ofende profundamente…”
 
*Nome fictício