É maravilhoso quando contamos aqui histórias de amor, união, cumplicidade, ainda mais lindo de se ler quando essa história é contada por uma pessoa sem deficiência, um deslumbre de uma paixão por mundos que não deveriam ser diferentes, a Camila Forte nos escreveu sobre esse encontro, ela e o Acassio Callegari (recém tetra) são os protagonistas de hoje, 7 meses da lesão do “kako”, leia abaixo a homenagem que a Camila nos enviou.

 

“Conheci esse advoGATO através de um casal de amigos – ela minha melhor amiga, e ele, o melhor amigo dele – em julho do ano passado. Nos demos super bem de cara, ele morava em Santos e estava estudando para a OAB e eu sempre louca com as minhas produções aqui em SP, porém, fomos cultivando uma vontade maravilhosa de continuar nos vendo e saindo juntos sempre que possível; até que ele passou na OAB, arrumou um emprego na capital e se mudou para cá no comecinho da ZN e eu na ZS, mas ainda assim fazíamos as nossas maluquices durante a semana.

Tudo estava rolando perfeitamente bem até que finalmente resolvi apresentá-lo ao meu pai. Saímos para jantar, foi super divertido – uma noite de verão que teria sido perfeita se o acidente não tivesse acontecido na hora que o Kako estava chegando de moto na casa dele.

No dia 26/01 ele deu entrada na UTI com uma fratura no pescoço na altura da C5, o que ocasionou esmagamento e trauma na medula o deixando tetraplégico. Após a cirurgia quando consegui entrar na UTI, meu coração (que já estava sofrendo) ficou em pedaços quando ele me pediu para pegar na mão dele – a qual eu já estava segurando – mas ele não sentia nada.

Fiquei desesperada, angustiada, revoltada, triste, arrasada, impotente vendo o cara que sou APAIXONADA nesta situação e não poder fazer NADA para ajudar, além de não ter nenhuma certeza de recuperação. Mesmo assim fiquei, sempre me considerei uma mulher muito forte e apreciadora de momentos HARD na vida, começamos a namorar na UTI – ele lá deitado, imóvel, com colar cervical e sondas, e eu ali achando ele LINDO e agradecendo por estar vivo!

Após 1 semana na UTI começou a sentir o dedão da mão direita e levantar levemente o braço ele foi para o quarto. – Uma ótima notícia, eu pensei, tá começando a se recuperar e se continuar nessa velocidade já já ta em pé de novo andando de skate todo gostoso por ai! Além de que agora vou poder vê-lo mais e quem sabe até dormir com ele – Já me disponibilizei para ajudar em tudo com a familia dele que me conhecia pouquíssimo.

A partir deste momento me sentia um pouco mais útil indo ao hospital todos os dias e dormindo lá muitas noites, ajudando em tudo que eu podia, enchendo o saco das enfermeiras para mudar ele de posição o tempo todo (pois descobri que o grande perigo neste momento eram as escaras) e fui acompanhando a evolução dele de pertinho, desde tirar as sondas até o primeiro banho no chuveiro – o que foi incrível de presenciar, estava numa felicidade indescritível!!!

Depois de 20 dias no hospital recebeu alta e voltou para Santos, a casa da mãe dele pois precisava de assistência 24×7.

Hoje 7 meses depois do acidente ele faz fisioterapia 5x na semana, consegue se coçar sozinho, tem controle dos braços, tem muque que está crescendo cada vez mais, melhora o controle de tronco diariamente, mexe no controle remoto, celular, escova os dentes, come de garfo, bebe sem canudinho, ajuda na hora de tomar banho, ABRAÇA e ainda conseguimos sair sozinhos para passear (óbvio que ainda precisamos de ajuda para tudo que vamos fazer fora do quarto – agradeço diariamente pela família e amigos que dão um suporte danado).

Com tudo isso conheci melhor a família dele – também estou lá praticamente todos os finais de semana – e vi de perto a mulher guerreira que é a mãe dele, mãezona que luta todos os dias ao lado dele, sorrindo e chorando junto. O tipo perfeito de mãe que é necessário para estes momentos! Sorte a nossa que a nossa família se deu benzão, todos super compreensivos e resilientes, nos apoiam muito!

Compreendem e tem compaixão pelo momento que estamos vivendo, pois eu sei que não é porque ele ‘está’ tetraplégico que devemos ser tratados como um casal diferente, porém a sociedade não está  preparada para ter amor incondicional pelo diferente. Sofremos preconceito? Claro. Olham com dó para nós? Sim. Me perguntam SEMPRE se ele já voltou a andar ou sentir as pernas? Com TODA Certeza!

Mas nada disso me deixa envergonhada, recuada, tímida por namorar um cara MARAVILHOSO que ESTÁ Tetraplégico. Este estado só me fez conhecer ele de outra forma – MARAVILHOSA, eu diria – e de nos FORTALECER, AMAR e se CUIDAR cada dia mais, pedrinha por pedrinha, mini movimento por mini movimento, invejinha por invejinha (da nossa FELICIDADE estampada na cara)

A luta não acabou #FORÇADELI !!! 
Amo muito você Gostoso!”