Beatriz Bombazaro, 20, é mãe de Enzo, 2. A mãe recebeu o diagnóstico de que seu filho teria síndrome de Down ainda no começo da gestação

Por Depoimento a Vitória Batistoti

- (Foto: Arquivo pessoal)
Beatriz Bombazaro e seu filho Enzo, 2 (Foto: Arquivo pessoal)

“O momento em que descobri que estava grávida foi bastante difícil… Naquela época, eu era muito nova, tinha 17 anos, estava prestes a entrar na faculdade. Foi um choque. Além disso, quando estava só com 2 meses de gestação, após uma ultrassom, o médico me disse que havia algo de errado com o bebê e recomendou que eu fizesse vários exames, entre eles o exame do cariótipo.
 
Duas semanas após realiza-lo, recebi uma ligação do laboratório me informando que eu teria um menino e que ele teria a síndrome de Down. A notícia foi dada assim, tranquilamente, mas, para mim, foi desesperador. Chorei muito, já que eu não tinha muita informação sobre o que era o Down. Eu me baseava muito no senso comum, pensava só que era uma pessoa muito dependente dos outros e isso me preocupava muito. Eu nunca tinha convivido com uma pessoa com a síndrome. Foi uma fase muito difícil, não aceitei a notícia logo de cara, tive de me acostumar.
 
Felizmente, como recebi o diagnóstico muito antes de parir, passei a gestação inteira pesquisando sobre o assunto e buscando mães que tivessem tido a mesma experiência que eu. Ingressei em grupos e, aos poucos, me inseri nesse mundo, para ter mais conhecimento sobre o Down. Era um universo novo.
 

Bruna, o marido Maicon e o pequeno Enzo (Foto: Reprodução / Instagram)
Beatriz, o marido Maycon e o pequeno Enzo (Foto: Reprodução / Instagram)

Ao contrário de mim, o Maycon, meu marido e pai do meu filho, foi muito mais tranquilo. Ele aceitou tudo numa boa, assim como a minha família e a dele. Claro que todos ficaram surpresos, mas ninguém discriminou. Só recebemos apoio, suporte e companhia. Todos ficaram por perto durante minha gestação.
 
Durante os meses de gestação, eu ficava tentando imaginar como o Enzo seria. ‘Será que ele vai puxar minha aparência ou a do pai dele?’. Ficava muito curiosa. Quando ele nasceu, achei muito parecido tanto comigo quanto com o Maycon. E até os tracinhos do Down nele ficaram lindos. Achei um charme os olhinhos puxados.
 

- (Foto: Arquivo pessoal)
Enzo registrado pelas lentes de Beatriz (Foto: Arquivo pessoal)

É claro que enfrentei preconceito. Por eu ter engravidado cedo, ouvia dos outros: ‘Você é tão novinha e vai ter uma criança que vai depender tanto dos seus cuidados…’. Eram comentários que me atingiam, claro, mas eu procurava encarar as coisas tranquilamente. Houve outras situações com piadas e comparações, mas eu não julgo. Procuro sempre mostrar aos outros o que é o Down porque entendo a falta de conhecimento que existe em relação à deficiência. Por isso, deixo o Enzo o mais próximo possível das pessoas para quebrar essa ideia de que a pessoa com Down é dependente em tudo, que não faz nada e que todas elas são iguais. Não são.
 
Eu tenho muito mais o que falar sobre as coisas positivas que o Enzo me trouxe… Eu sou outra pessoa depois dele nascer. Não só eu, mas todos em minha família. A vinda dele fez a gente agradecer mais às pequenas coisas, comemorar o simples. O Enzo nos ensinou isso; que tudo é uma festa. Ele é uma criança incrível, sorridente, que leva a alegria a todos, onde quer que vá. Ele transformou todo mundo.
 

Enzo faz sucesso no instagram. O pequeno já tem até uma conta: @crescendocomenzoasafe (Foto: Reprodução / Instagram)
O faz sucesso no instagram: ela já tem até uma conta: @crescendocomenzoasafe (Foto: Reprodução / Instagram)

Acho que falta informação para as pessoas. Quando fui procurar sobre o Down, achei muito mais coisas negativas do que positivas sobre a síndrome. Não se fala dos benefícios, só das doenças. Por isso, procuro mostrar que não é um tabu: é claro que as pessoas com Down tem suas dificuldades, que cuidar de um bebê com a deficiência exige mais cuidados, já que ele é mais frágil, mais “molinho”. Mas não é um bicho de sete cabeças; é uma pessoa que pode viver como outra qualquer, mas que precisa do incentivo da família. A pessoa com Down pode viver, namorar e estudar, desde que não seja criado como um coitado, desde que não escute que não é capaz de nada. Essa pessoa precisa de estímulo. Sei que se eu acreditar no Enzo, ele será capaz e irá surpreender a todos nós”.