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A banda musical Staff Benda Bilili é composta por oito músicos de rua de Kinshasa, alguns portadores de deficiência motora.

Perseverança e muita coragem na adversidade por causa da doença são as primeiras lições que transmitem os Staff Benda Bilili, cujo nome significa, na língua lingala, da RD Congo, “olhar além das aparências”. O grupo, fundado em Dezembro de 2002, é composto por oito músicos de rua, muitos deles deficientes motores devido à poliomielite. Estes vivem nos arredores do antigo jardim zoológico de Kinshasa, capital da República Democrática do Congo.
 
Ricky Likabu, co-fundador da banda, e Coco Yakala explicam que escolheram este nome para interpelar as pessoas que os rejeitavam e subestimavam por causa da sua aparência física. “No nosso país, se as pessoas com mobilidade normal têm problemas, imagine-se a situação das pessoas com deficiência que estão abandonados à sua sorte”, diz o compositor e guitarrista Coco, ao contar as peripécias dos membros da banda. Eles viviam na rua, em péssimas condições de saúde, porque nos centros para os portadores de deficiência as ofertas eram ainda piores. Para vencer o destino, apoiaram-se na música.
 
Ritmo sobre rodas
 
Os Staff Benda Bilili demonstram uma habilidade impressionante nos seus concertos. O ritmo das mãos e do sopro é frenético. E a isso junta-se o movimento das cadeiras de rodas e em cima delas.
 
Mas o talento da banda começa antes: são eles que constroem a maior parte dos seus instrumentos musicais. Roger Landu, o elemento mais jovem, com 19 anos, que entrou para o grupo quando tinha 13, toca um instrumento que ele próprio inventou e batizou como satonge. “O meu instrumento é como uma guitarra solo, mas na realidade não é uma guitarra. Usei uma pequena vara curva, uma lata de leite em pó, um pedaço de linha de pesca e um cabo eléctrico.”
 
A música dos Staff Benda Bilili é uma mistura sedutora da clássica rumba congolesa com funk, ritmos afro-cubanos, blues e reggae. “Nós costumamos dizer que fazemos rumba blues, um gênero musical que inventamos”, afirma Ricky, que também é vocalista. A banda, que se considera a voz dos sem-voz, reflete nas suas canções as vicissitudes da vida diária em Kinshasa, vários pormenores da atualidade dos Congoleses, como o aumento do preço dos alimentos ou a importância da vacinação das crianças contra a poliomielite.
 
Mover o mundo
 
Os Staff Benda Bilili tiveram um anjo-da-guarda a quem estão imensamente gratos. Trata-se de um engenheiro e músico belga que os ajudou a gravar com boa qualidade o primeiro disco, Très, très fort (“Muito, muito forte”), que foi o seu disco de estreia, e que, durante meses, encabeçou as vendas na Europa na categoria de música étnica. Os textos das canções, que também tratam assuntos como a decepção – como é o caso do tema “Tonkara” –, deixam o ouvinte possuído, também por causa dos ritmos e sons graves, capazes de levar quem os ouve para os contextos que evocam e para o que querem significar.
 
Os concertos dos Staff Benda Bilili deixam o público perplexo e entusiasmado. O ritmo inesgotável e o espírito indomável da banda são perceptíveis igualmente no seu segundo álbum, Bouger le monde (“Mover o mundo”).
 
O concerto de que mais gostaram foi o que deram no Festival de Rock de Belfort, em França. “Era a primeira vez que tocávamos num acontecimento tão importante na Europa e, do êxito que tivéssemos, augurava-se o bom acolhimento que teríamos a seguir no Velho Continente. E isso marcou-nos”, diz Coco, que compõe as canções juntamente com Théo Nzonza, soprano e membro da banda.
 
História de superação
 
Atualmente, os oito elementos da banda já não vivem na rua. Têm as suas casas, os seus filhos podem frequentar a escola e ir ao médico quando estão doentes.
 
A sorte dos Staff Benda Bilili começou a mudar em 2004, depois do seu encontro com dois cineastas franceses, Renaud Barret e Florent de la Tullaye. Estes dois diretores ouviram-nos tocar num restaurante de Kinshasa e não demoraram a vislumbrar nas aventuras daqueles oitos homens um guião para um documentário.
 
E este documentário fez com que os Staff Benda Bilili fossem conhecidos nos cinco continentes. Com o título Benda Bilili, a película de 95 minutos foi bem recebida na 63.ª edição do Festival de Cinema de Cannes, em 2010. O filme, longe dos clichés sobre África, narra as circunstâncias que levaram a banda musical, marcada pela pobreza e pela deficiência na RD Congo, ao estrelato na Europa.
 
A história desvela aos olhos do público os pequenos milagres que acontecem nos infortúnios, como, por exemplo, quando a população de Kinshasa se uniu para ajudar a banda depois que um incêndio queimou o abrigo onde os músicos viviam.
 
A história extraordinária destes artistas de rua também foi apresentada na América, mais concretamente no México, graças ao Festival Internacional de Cinema da Universidade Nacional Autônoma do México.
 
Desde que, em 2009, receberam o prêmio de melhor grupo no Festival Músicas do Mundo, em Berlim, o êxito jamais deixou de os acompanhar.
 
Em 2010, vieram a Portugal e protagonizaram um dos melhores concertos da história do Festival Músicas do Mundo, em Sines. Voltaram a deslumbrar em 2012.
 
Em Outubro e Novembro do ano passado, eles atuaram pela primeira vez nos Estados Unidos e na China.
 
Músicos solidários
 
Os oito membros da banda Staff Benda Bilili apoiam várias ONG em Kinshasa, especialmente aquelas que têm como objetivo a inserção laboral das pessoas em cadeiras de rodas. Humildemente, consideram-se um exemplo de perseverança para as outras pessoas na mesma condição. E estão a criar uma fundação na sua cidade para ajudar os portadores de deficiência e as crianças de rua. Será um centro de formação, onde serão lecionadas música, informática, contabilidade, costura, entre outras disciplinas.
 
Entretanto, graças ao trabalho solidário dos Staff Benda Bilili, muitas pessoas com deficiência começam a organizar-se para formar as suas orquestras ou desenvolver outros projetos.
 
 
 
Fontes: além-mar – turismoadaptado.wordpress.com