Evani Calado treinou com a ex-ginasta durante a Paralimpíada e viu “brilho no olho”

Por Helena Rebello e João Gabriel Rodrigues Rio de Janeiro

                               bocha evani calado calheira renata (Foto: Daniel Zapper / MPIX / CPB)Evani Calado e a calheira Renata na festa do Prêmio Paralímpicos (Daniel Zappe / MPIX / CPB)

O sorriso no rosto acompanhou Evani Calado ao longo de toda a temporada. Premiada na última quarta-feira como melhor atleta da bocha em 2016, a campeã da classe BC3 – ao lado de Evelyn e Antonio Leme, o Tó, nas duplas mistas – comemorou também uma conquista diferente da Paralimpíada do Rio. Após faturar a medalha em quadra, a brasileira teve a chance de dividir parte de seus conhecimentos com Lais Souza. Desde então, a ex-ginasta e esquiadora não voltou a se arriscar no esporte mais inclusivo do programa paralímpico. Mas, segundo Evani, o que não faltará será oportunidade ou estrutura quando ela decidir jogar de novo. A medalhista de ouro garante que vários clubes querem contar com Laís em suas equipes.
 

– Eu acredito que ela esteja focada no tratamento dela agora e quando estiver mais evoluída vai sim vir para a bocha, mas não sei qual o clube. Está uma disputa. Todo mundo quer a Laís. Mas acho que ela vai vir sim. A bocha abraça todos.

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Evani e Laís têm graus de tetraplegia semelhantes. A campeã paralímpica teve paralisia cerebral causada por falta de oxigenação na hora do parto, enquanto a ex-ginasta perdeu os movimentos do pescoço para baixo ao chocar-se contra uma árvore em treinamento de esqui nos Estados Unidos durante a preparação para os Jogos de Inverno de Sochi 2014.
Na Rio 2016o canal SporTV promoveu o encontro entre as duas atletas. Laís recebeu as lições básicas sobre objetivo e estratégia do jogo, assim como sobre a importante relação com o calheiro – pessoa encarregada de auxiliar atletas da classe BC3, que possuem maior limitação motora.
Laís mostrou-se interessada nas explicações e as usou na prática, emocionando a todos que acompanharam a sessão de treino na área de aquecimento da Arena Carioca 2. Para Evani, Laís compreendeu que poderia novamente sentir a emoção de defender o Brasil em âmbito competitivo.
– Jogamos uma partida na brincadeira, e os olhos dela brilharam de novo no esporte. Os meus também brilharam por mostrar que ela tem chance sim de voltar para o esporte e não ficar só limitada a alguma coisa. Fiquei encantada com ela. Eu era fã dela, sou fã da ginástica artística, sou suspeita para falar, e fiquei maravilhada com o retorno que teve. 
Esse papel de embaixadora da bocha é abraçado por Evani muito além do contato com Laís. Em uma classe em que muitos de seus colegas e adversários possuem dificuldade de dicção, a atleta faz ótimo uso de suas habilidades como graduada em Comunicação Social e Propaganda e Marketing. Seu objetivo é popularizar o esporte.
Lais Souza e Evani Calado jogam bocha (Foto: André Durão)Evani Calado (esq.) ajuda a apresentar a bocha para Laís Souza durante a Paralimpíada (Foto: André Durão)
Apesar da categoria em que veio o inédito ouro chamar-se duplas mistas, a equipe na verdade é formada por um trio. Dois atletas jogam enquanto um fica na reserva, podendo haver substituição durante a partida. Na decisão, contra a Coreia do Sul, Evani observou as atuações de Tó à beira da área de competição. A partida foi disputadíssima, teve punição contra o Brasil, mas final surpreendente e feliz para os donos da casa. Por 5 a 2, a equipe verde-amarela superou o favoritismo do time asiático, líder do ranking mundial, e faturou o ouro.– Meu papel é muito importante. Fiz a faculdade justamente para divulgar alguma coisa para o deficiente. No primeiro ano de estudo conheci a bocha e falei que era esse o caminho que eu ia trilhar. Ia divulgar a bocha e mostrar que a gente pode chegar longe. Não é uma cadeira de rodas, o fato de não conseguir às vezes comer sozinho que vai te impedir de praticar e ir para a frente, e a gente provou isso.
– Foi um ano maravilhoso para a bocha no geral. Não chegamos como favoritos, tínhamos um grande caminho a percorrer e aos poucos fomos conquistando, chegando mais perto do pódio. Conseguimos ganhar da Coreia, que era favorita até então. Foi uma realização para a gente, para a bocha, tanto na divulgação quanto na conquista. Nosso papel é fazer com que as pessoas acreditem, que os deficientes que estão em casa achando que não podem praticar nenhum esporte possam sair sim. Eu, Antonio e Evelyn provamos que não existe barreira. A gente sai de casa, pratica esporte e hoje somos campeões paralímpicos. O que tem de gente procurando nossa equipe… É uma coisa inexplicável.