Gente lembram que eu falei aqui que eu estava louca para comprar um exemplar do livro do repórter e colunista da Folha de São Paulo Jairo Marques? Pois é, eu consegui comprar o livro “Malacabado-A história de um jornalista sobre rodas” pelo site da Livraria Saraiva e hoje vim falar minha opinião sobre a obra.

 Ele inicia o livro citando a seguinte frase do fotógrafo Evgen Bavcar, que é cego, “Não devemos falar a língua dos outros, nem utilizar o olhar dos outros, porque, nesse caso, existiremos através dos outros. É preciso tentar existir por si mesmo.”
Segundo Jairo Marques a frase constitui o coração da obra na qual o autor narra detalhes da sua vida. Ele nasceu em Três Lagoas-MS e perdeu os movimentos das pernas e parcialmente do braço esquerdo, em decorrência da poliomielite.

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Na obra ele traz relatos inéditos de seu cotidiano com o objetivo de levar as pessoas a refletirem sobre os desafios e percalços enfrentados pelas pessoas com deficiência.Assim, logo no título o autor provoca o leitor ao utilizar “a palavra malacabado, espécie de corruptela de ‘mal-acabado’, é uma galhofa, uma provocação à falsidade disfarçada em discurso politicamente correto, que abraça e chama alguém de ‘especial’ diante de uma plateia, mas golpeia a cidadania pouco a pouco, nas várias situações em que ela precisa verdadeiramente ser representada e respeitada com inclusão, com acesso, com todos juntos.”

Daí ele afirmar que “assumir-se malacabado é, ao mesmo tempo, consequência do cansaço diante de uma sociedade que cobra perfeição em seus mais diversos setores e um chamamento à realidade: existirá alguém que possa dizer-se inteiramente acabado, feito por completo, perfeito? Quem representaria o modelo de serumano irretocável em caráter, em contentamento de alma, em formas e beleza?”

Assim, ao contar histórias de sua vida, ele narra detalhes de seu cotidiano, com a pretensão de falar de olhares, ou seja, como os olhares dos outros interferiram na vida dele, reunindo as mais diversas sensações.

Dessa forma, não tem como o leitor não se comover quando Jairo Marques relata o frio e o medo que sua mãe sentiu ao sair do interior do Mato Grosso do Sul para São Paulo, numa noite do mês de julho de 1975, com seu filho muito doente.

João, o taxista, “agiu movido pela consciência de tentar salvar um bebê. Madrugada adentro, dirigiu quase 700 quilômetros em velocidade escandalosa para a rodovia Marechal Rondon, em frangalhos.Nos braços de minha mãe, eu era uma dúvida.”

E como não sentir uma tremenda aflição quando ele relata que ao chegarem na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo sua mãe teve seu filho retirado de seus braços. O fato de “desgarrar as crias de suas mães era o protocolo exigido, pois o vírus continuava a destruir o corpo do bebê e era preciso realizar cuidados urgentes e minuciosos. Entre eles, deixar a criança no interior do ‘pulmão de aço’ […]”

Depois de quase dois meses internado eles voltam para casa.Sua mãe repleta de perguntas, indefinições e traumas prefere se trancar em casa com toda a família a encarar os olhares e questionamentos dos curiosos de plantão.

Até que um certo dia a porta foi aberta dando início “[…] as caravanas de solidariedade até a casa humilde, com pessoas verdadeiramente solícitas e outras apenas tementes a Deus.”

Anos depois sua mãe chorou bastante quando o médico do hospital Sarah Kubitschek, de Brasília, explicou que ele jamais conseguiria recuperar os movimentos perdidos. “A partir de então, começava uma nova maneira de olharmos para a frente, de planejarmos o futuro.”

Assim, suas lembranças da primeira infância remetem ao tratamento de reabilitação e a vida escolar. Daí ele se remeter a ausência de rampas, elevadores, portas largas e a dificuldade de transitar pelas ruas de terra para chegar à escola.

Ele estudou a maior parte de sua vida em escola pública mas, por ter boas notas conseguiu uma bolsa de estudo para cursar o ensino médio em uma escola privada. Mas, foi quando li sobre a atitude insensível e preconceituosa da diretora dessa escola que meu estômago embrulhou.

Já quando ele fala dos amigos como não perceber a importância deles na sua vida.Daí ele afirmar que Alessandro, Humberto, Douglas, Cássio, Daniel, Clodoaldo “[…] foram inconscientemente responsáveis pelo fato de eu me ver como uma pessoa comum, com capacidades, fraquezas e desafios variados pela frente.”

Mas, me maravilhei mesmo foi com as viagens nacionais e internacionais realizada por ele a bordo de uma cadeira de rodas. Cadeira essa que não o impediu de fazer coberturas bem difíceis, por exemplo, quando ele cobriu um blackout em Florianópolis.

Uma outra parte do livro que eu adorei foi quando ele mostrou seu lado cachorro com as mulheres. No capítulo De cueca pela madrugada, vou confessar que me diverti horrores quando ele relata a vingança da ex-namorada que o deixa numa situação bem constrangedora numa cama de um hotel.

Enfim, vários motivos me levam a indicar a leitura desse livro entre eles: a sua forma irreverente de escrever sobre a diferença para revelar que na verdade somos todos iguais; tratar o tema da deficiência de modo leve e inusitado e chamar a atenção para a necessidade de olhar e entender mais o outro, compreender que o outro precisa de acesso.

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Então é isso minha gente, foi só um resuminho.Espero que tenham gostado e se quiserem saber mais segredos da vida desse jornalista malacabado vai lá na livraria e compra o seu! E vamos fofocar lá nas redes sociais Facebook// Instagram// Twitter

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