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A construção do protótipo teve como um dos principais objetivos desmistificar o preconceito que construir uma moradia dentro dos padrões universais oferece mais custo ao empreendedor. O custo é praticamente o mesmo da construção convencional e nem sempre é necessária uma área maior.
Para a arquiteta Sandra Perito, propor mudanças nos parâmetros das construções residenciais traz grandes vantagens e nem sempre há custos adicionais no projeto, inclusive alguns itens não apresentam custo a mais. “Prever futuras adaptações não representa custo a mais no custo total da obra, já que o investimento é na capacidade do ambiente em adaptações às necessidades do usuário e não em projetos especiais. Adaptações em casas já construídas terão custo muito mais elevado ou nem sempre serão possíveis de execução”, explica. “Se começarmos a pensar hoje em construções que possam ser adaptáveis a qualquer estágio da vida é possível que o usuário possa viver muito bem em sua casa em qualquer situação”, ressalta Sandra. A adoção de critérios que tornam o projeto de construção da moradia mais segura e confortável é uma ação preventiva.
Considerando que o brasileiro, especialmente, o de baixa renda, geralmente adquire um imóvel, com financiamento de longos anos, o que implica em uma baixa mobilidade residencial, a previsão de adaptação no projeto inicial se torna uma das partes mais importantes do processo de construção. “A adaptabilidade pode aumentar o custo inicial da construção em aproximadamente 2,5%, nos padrões mais altos e de 5% a 7% em populares. Esse acréscimo no custo da unidade, diluído sobre o custo de todo o investimento (terreno, arruamento, infra-estrutura), na situação mais desfavorável, seria em média 3% do total da implantação”, alerta Sandra.
Moradias adaptáveis, inseridas no contexto sócio-econômico brasileiro, podem representar aumento na satisfação e, conseqüentemente, na qualidade de vida do morador. “É preciso mudar o padrão e este é o grande desafio: acabar com os preconceitos e estereótipos e começar uma nova fase, para construção de casas adaptáveis que possam ser, de fato, usadas pela vida toda, com segurança e independência”, defende a arquiteta.
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O protótipo da Universal Homeâ pode ser considerado uma bandeira para conscientizar tanto produtores de componentes da construção civil quanto incorporadores, construtores e projetistas, sobre a habitação para as classes menos favorecidas, que em geral, hoje não permitem flexibilidade. “O usuário acaba sendo prisioneiro da própria casa, pois é nela que terá que viver a vida toda”, diz Sandra. Daí a necessidade da mudança.

PROJETANDO PARA A ADAPTABILIDADE

Apenas algumas etapas da construção sofrem acréscimo para adequação ao princípio da adaptabilidade, como exemplos instalações hidráulicas, elétricas, esquadrias, pintura e serviços complementares.
Isso porque a grande maioria das características é alcançada apenas com uma aplicação diferenciada dos elementos, que compõem qualquer construção, sem necessidade de elementos adicionais.
A adaptabilidade pode aumentar o custo inicial da construção. Porém deve ser feita uma avaliação do custo-benefício da aplicação do universal design, uma vez que o acréscimo é irrisório nos padrões mais altos e pouco significativo, nos mais baixos, principalmente se comparado com o custo social e psicológico da inacessibilidade e da perda de independência.
A Universal Home desmistifica o preconceito que existe sobre o custo da adaptabilidade, uma vez que o custo da edificação está nos parâmetros de mercado. Uma análise mais generalizada para um entendimento global do custo da obra, que pode ser aplicada a diversos tipos de edificação residencial, ilustra quais etapas podem sofrer variações de custos.
Estimativa de Custos por Etapa de Obra (%)

Estágios
Índice C&M *
Acréscimo para Adaptabilidade
Serviços preliminares
2,5 a 3,5%
Não altera
Movimento de terra
0 a 1%
Não altera
Fundações especiais
-x-
Não altera
Infra-estrutura
6,5 a 7%
Não altera
Superestrutura
17 a 20%
Não altera
Vedação
6 a 10%
Não altera
Cobertura
0 a 0,5%
Não altera
Instalação hidráulica
11 a 13%
Altera (1)
Instalação elétrica
4 a 5%
Altera (2)
Impermeab./isolam. térmico
10 a 13%
Não altera
Esquadrias
2 a 4%
Altera (3)
Revestimento (piso, parede, forro)
17 a 23%
Não altera
Vidros
3,5 a 6,5%
Não altera
Pintura
6,5 a 8,5%
Altera (4)
Serviços complementares
2 a 3%
Altera (5)
Base: índices de custo unitário Pini de edificações, 02/2003.
Nota-se que dos quinze itens que compõem as etapas da obra, apenas cinco apresentam variações de custo, com a inserção de características de adaptabilidade no projeto.
design universal

1. Instalação hidráulica

Aumenta o custo com tubulação no banheiro para instalação dos pontos de registros do chuveiro opostos à ducha, sendo refletido na metragem de tubulação. As demais tubulações não são alteradas, somente instaladas em posição que prevêem colocação de barras de apoio. O acréscimo resultante da adaptabilidade representaria um aumento de 0,16% no custo total da construção.Em uma moradia padrão popular, esse acréscimo representa 1,8% no custo total. Nota-se que o acréscimo de custo das instalações não representa um aumento significativo no custo total da obra.

2. Instalação elétrica

O custo desta instalação também sofre variação devido à necessidade de alguns pontos de energia a mais para as previsões futuras, o que representa um acréscimo de 0,2% no custo total da obra. Já na moradia popular, tomando-se por base o padrão mais baixo, o acréscimo seria de 0,5% no custo total da obra.

3. Esquadrias

Esquadrias de alumínio ou pvc são mais fáceis de usar e de conservar, com baixa manutenção. Já as esquadrias de madeira e de ferro podem empenar ou enferrujar e exigem manutenção constante, apesar de econômicas nos padrões encontrados no mercado. O uso de esquadrias de melhor qualidade gera um acréscimo no custo total da obra. Com relação às portas mais largas, principalmente nos banheiros, não há custos extras para vãos maiores: o custo de folhas e batentes de 60, 70 ou 80 cm é o mesmo. O vão maior representa ainda uma redução de custo na obra, já que serão eliminados 10 ou 20 cm de alvenaria e revestimento.

4. Pintura

Como a cor branca provoca ofuscamento da visão, seu uso não é recomendado. Sendo assim, pode haver variação nesta etapa, uma vez que a tinta colorida tem um custo mais alto. Para uma moradia popular esse acréscimo representaria 0,08% de acréscimo no custo total da obra.

5. Serviços complementares

Nessa etapa são incluídos diversos componentes para a adaptabilidade, como corrimãos em dois níveis, previsão para instalação de elevador, rebaixo dos dois lados do batente, motorização de tampos, elementos que não fazem parte das outras etapas da obra. Nele estão incluídos os muros, paisagismo e até mesmo corrimãos e guarda-corpo, que independentemente do detalhe de projeto, já apresentam custo.
Para moradia de alto padrão estima-se que, na média, 2,5% do custo total da obra provém de despesa com serviços complementares. Para moradia popular, 0,75% incluindo os itens acima relacionados.
Fonte: Instituo Brasil Acessível – http://www.forumdaconstrucao.com.br/