Ryley Batt, o Messi do rugby Paralímpico: ‘Não é todo dia que a gente pode bater em outro cara de cadeira de rodas’

 

Animado para o evento-teste que aconteceu no Rio de (26) a domingo (28), capitão da Austrália explica porque ama seu esporte

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Batt treina com a seleção australiana na Arena Carioca 1: pronto para as batalhas (Foto: Rio 2016/Alex Ferro)

Texto: Valeria Zukeran

Todo mundo que teima em enxergar os atletas Paralímpicos sob as lentes da piedade deveria conhecer Ryley Batt. Campeão Paralímpico e mundial, o capitão da seleção australiana já foi descrito como o Lionel Messi ou o Lebron James do rugby em cadeira de rodas. “O que atrai todo mundo para este esporte é o lado físico. Não é todo dia que a gente pode sair por aí e bater em outros caras de cadeira de rodas. É muito divertido”, diz o jogador, em entrevista exclusiva aoRio2016.com. Ele é uma das principais atrações do Torneio Internacional de Rugby em Cadeira de Rodas, que aconte entre esta sexta-feira e domingo (26 a 28) na Arena Carioca 1, evento-teste dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 e integrante do Aquece Rio.

Considerado o melhor jogador de todos os tempos na modalidade, Ryley Batt lembra outro aspecto positivo do rugby em cadeira de rodas. “É um esporte de equipe, proporciona grandes amizades, o que é um aspecto muito legal. Mas sua visão particular, que se reflete na postura em campo, vai por outro lado. Não é por acaso que o rugby em cadeira de rodas foi apelidado de murderball (o trocadilho com murder – “assassinato” em inglês, está no nome de um famoso documentário lançado em 2005.

“O que me atrai neste esporte são as batidas e a velocidade do jogo. Adoro!”

A agressividade em quadra também se reflete fora dela. Batt não esconde ser um entusiasta da velocidade e da adrenalina, pilotando quadriciclos e outros veículos a motor nas horas de lazer. “Também gosto de jet-ski e motos aquáticas, esqui aquático”, resume. Dá um sorriso satisfeito ao saber que seu estilo foi associado ao termo “Velozes e Furiosos”, título de um filme campeão de bilheteria de 2001 que já chegou à oitava produção: “É, este sou eu”.

No evento-teste, porém, promete pegar menos pesado. “Faltam seis meses para os Jogos e não quero arriscar quebrar um braço ou ter alguma outra contusão”, justifica. De qualquer modo, ele vê o torneio como duríssimo. “Qualquer um dos cinco, seis primeiros do ranking (atualmente Canadá, Estados Unidos, Japão, Austrália e Grã-Bretanha) pode ganhar da gente”. Mas em setembro, o direcionamento da agressividade será outro…

RUGBY RYLEY BATT

“O que pretendo fazer com a adrenalina no Brasil? Ganhar a medalha de ouro”

Por causa de uma má formação congênita, ele nasceu sem as pernas e com má formação das mãos, que passaram por cirurgias (o rugby em cadeira de rodas é disputado por atletas com comprometimento em pelo menos três membros – braços ou pernas – do corpo). A cadeira de rodas seria a opção mais esperada de deslocamento para o garoto nascido em Port Macquarie. Mas até os 12 anos ele nunca quis usar o acessório, substituindo-o pelo skate. “Queria ser um garoto normal, como os outros”, justificou

Aos 12 anos porém ele foi apresentado ao rugby em cadeira de rodas. Foi uma ascensão meteórica. Três anos depois, aos 15, ele já fazia parte da equipe australiana nos Jogos Atenas 2004, tornando-se o mais jovem atleta Paralímpico da história de seu esporte. “Acho que era um pouco jovem demais, mas foi uma experiência incrível”, lembra. Não levou medalha na ocasião, mas quatro anos depois foi prata em Pequim 2008.

Em Londres 2012, viveu o auge da carreira. Marcou 160 pontos na campanha que levou a Austrália ao ouro, 37 deles na final contra o Canadá, vencida por 66 a 51. Em 2014, no Mundial na Dinamarca, mostrou novamente a força em nova decisão contra os canadenses. Marcou nada menos do que 45 pontos na vitória por 67 x 56. O evento-teste no Brasil marca novo reencontro dos finalistas Paralímpicos. O time canadense está desfalcado de seu principal nome, Zak Madell, mas a rivalidade será levada muito a sério.

No Brasil, no entanto, promete pegar leve. “Faltam seis meses para os Jogos e não quero arriscar quebrar um braço ou ter alguma outra contusão”, justifica. Ele diz que a ousadia e agressividade vai ficar nas quadras. “O que pretendo fazer com adrenalina no Brasil? Ganhar a medalha de ouro”. A jornada, segundo ele, vai ser dura. “Qualquer um dos cinco, seis primeiros do ranking (atualmente Canadá, Estados Unidos, Japão, Austrália e Grã-Bretanha) pode ganhar da gente”.

O Torneio Internacional de Rugby em Cadeira de Rodas será disputado por quatro equipes: Austrália e Canadá, Grã-Bretanha, atual campeã europeia, e o Brasil, que será anfitrião dos Jogos. Serão 48 atletas ao todo. Os australianos vêm ao Brasil dispostos a se adaptar o máximo possível às condições locais. “Vai ser uma oportunidade de nos familiarizar com o país, a área de competição que vamos encontrar em setembro”, diz o capitão australiano Ryan Scott. Para ele, o desempenho no evento-teste tem seu peso. “Algumas pessoas podem dizer que o resultado não tem importância, mas sempre que colocamos a camisa da Austrália queremos vencer.”

No Brasil, há consciência de que há uma diferença técnica em relação aos adversários, que estão entre os melhores do mundo. “Acho que servirá para a gente ter uma noção de como estamos diante as principais equipes”, disse o capitão brasileiro Alexandre Taniguchi, o Japa.

WHEELCHAIR RUGBY (3)

Atenção às cadeiras de rodas e ao transporte

Uma competição exclusivamente Paralímpica demanda muita atenção com detalhes que podem tornar a vida do atleta que utiliza cadeira de rodas bem complicada. A líder de competição do rugby em cadeira de rodas do Comitê Rio 2016, Daniela Coelho, explica alguns dos trabalhos das 39 áreas funcionais que estarão em ação no evento-teste (com 114 voluntários envolvidos). “Teremos uma atenção especial com chegadas e partidas, ou seja, os deslocamentos dos atletas entre o aeroporto e os hotéis. Além disso, vamos testar o sistema de transporte com os ônibus adaptados”, revela.

As cadeiras de rodas são grande preocupação. “Também vamos trabalhar a questão da logística, pois os atletas têm suas cadeiras de competição e as de uso no dia-a-dia.” Cada equipe tem 12 atletas, o que significa 24 cadeiras por time. “As de competição vão ficar em depósitos aqui na Arena Carioca 1”, explica Daniela. “Também teremos serviço de manutenção tal qual teremos nos Jogos”.

Outros setores a ser testados no formato dos Jogos são as apresentações esportivas e cerimônias de premiação, mesários, acessibilidade da arena e classificação funcional.

Fonte: Ryley Batt, o Messi do rugby Paralímpico: ‘Não é