Geeente, hoje eu vim apresentar uma garota que é muito descolada, ela se chama Heloísa Rocha, jornalista, portadora de Osteogênese Imperfeita, com menos de um metro de altura, cadeirante e apaixonada por moda.

Elegância, simpatia e autoconfiança são as principais qualidades que percebemos quando abrimos seu instagran @modaemrodas ou seu perfil no facebook e vemos suas fotos. Curiosos para saber mais sobre  sobre a vida da Heloísa Rocha e o sucesso que ela vem fazendo nas redes sociais? Então, vejam a entrevista abaixo.

Moda em rodas - cadeirante - de papo com Claudinha- casadaptada

Quem é Heloísa Rocha?

Natural de Aracaju (SE), sou portadora de uma doença rara chamada Osteogênese Imperfeita, que tem como principal característica a fragilidade óssea. Bem, trinca e quebra de osso eram uma rotina na minha infância, mas vim de uma família muito esclarecida que, desde cedo, nunca me permitiu que a doença girasse em torno da minha vida, mas sim que fosse sempre apenas uma característica dentre tantas. Enfim, frequentei o colégio regular como qualquer criança, participei das excursões escolares, aos 15 comecei a ir nas primeiras festas e, logo, nos shows. Sempre fiz parte dos mais diferentes grupos de amigos quando não os liderava. Enfim, eu tive uma infância e uma adolescência normal como qualquer menina de classe média, mas que quando tinha uma “trinca” ficava uns dias de repouso. O que na adolescência, essas fraturas se tornaram cada vez mais raras. Depois da graduação, eu senti a necessidade de expandir os meus estudos e decidi cursar uma especialização em São Paulo, pois toda a família dos meus pais reside aqui. Contra todos os meus planos iniciais, eu acabei conseguindo em menos de um ano um emprego na minha área de formação, na qual sou funcionária até hoje.     

Como foi sua infância e adolescência?

Colocando a fragilidade óssea de lado, eu tive a felicidade de ter tido uma infância e uma adolescência relativamente natural. Fui alfabetizada com uma professora particular, mas para que o Ministério da Educação validasse meus estudos eu tinha que realizar as provas em uma instituição de ensino regular. Vale ressaltar que no início dos anos 90 algumas escolas particulares me recusaram alegando que não estavam preparadas para receber um aluno “especial”. Depois de uma certa busca, eu encontrei uma escola que me aceitou. Eles disseram aos meus pais que seria interessante para o meu desenvolvimento social que eu frequentasse as aulas pelo menos uma vez por semana. Para a surpresa de todos, eu tive um entrosamento muito positivo com a classe e em pouco tempo passei a frequentar as aulas normalmente. Exceto este período em minha vida, eu felizmente não tive muito problemas no meu desenvolvimento pessoal, pois sempre vivi cercada de muitos amigos, que, aliás, os tenho até hoje. Se em algum momento ouvia algum comentário preconceituoso ou maldoso na rua sempre abstraí. Nunca levei os olhares ou observações para o pessoal. Por esta razão, o externo nunca interferiu ou abalou o meu interno.   

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Por que você escolheu o jornalismo?

Quando estava me inscrevendo para prestar o vestibular, eu escolhi o jornalismo, inicialmente, pelo fato de sempre ter sido uma criança/adolescente muito comunicativa e que tinha muita afinidade com a escrita e a leitura. Além disso, eu enxerguei na área um leque de possibilidades de atuação, pois o profissional pode trabalhar nas mais diversas editorias e meios de comunicação. Assim, eu entendia que, independente da deficiência, algum lugar na profissão eu me encaixaria.

Como você se define jornalista?

Me defino como uma profissional que preza pela qualidade, por tentar escutar os dois lados da notícia e de sempre tentar checar os dados da informação, mas, ao mesmo tempo, de promover no meu universo de trabalho uma relação harmoniosa e amigável.

Como o mercado de trabalho a recebeu?

Inicialmente, ainda como estudante universitária, com muita dificuldade, pois os veículos de comunicação recusavam a me dar uma oportunidade por conta da deficiência. Assim, eu iniciei com um estágio voluntário e, graças à minha dedicação inicial, eu consegui me colocar rapidamente no mercado de trabalho. Em São Paulo, já formada, eu enfrentei novamente o preconceito por parte de um banco nacional, mas, felizmente, conheci o meu atual chefe no momento em que a emissora em que eu trabalho há sete anos estava com uma vaga de redatora aberta e, além disso, eles precisavam preencher as cotas para PcDs e eu da vaga. Bem, eu acho que foi o “casamento perfeito”. (risos)

Em algum momento da sua vida sofreu por não se encaixar nos padrões de beleza determinados pela sociedade?

Não! Sinceramente, eu tive uma boa base familiar que me fez, desde bebê, entender minha condição física e minhas limitações. Nunca tive problema de autoestima por conta do meu corpo e sempre utilizei a meu favor dois pontos fortes em mim: a criatividade e o gosto pela moda. Assim, sempre trabalhei para adaptar e “inovar” o meu estilo.

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E como você se vê no espelho, hoje?

Me vejo como uma mulher e profissional da minha idade. Como toda mulher, tem dias que acordo me sentindo linda e inspirada e outros em que acordo vendo milhões de defeitos. (gargalhadas) Depois dos 30, eu aprendi a ganhar confiança com a minha pessoa, entender o meu corpo e a minha personalidade. Acho que isso reflete um pouco da maturidade e da experiência que a vida nos dá.

Para você, o que é moda?

Moda é um reflexo da sua pessoa, da sua personalidade e do seu dia. As pessoas precisam entender que não existe um corpo ideal e que ninguém precisa consumir tudo aquilo que a mídia nos vende. Na realidade, é preciso ter o olho crítico de saber qual tendência que combina com a gente e entender que a moda é feita por nós mesmos, mas, assim como tudo na vida, é através dos erros, dos testes e das observações que a gente encontra um equilíbrio, que chamamos de estilo próprio.

Conte-nos sobre seu perfil do Instagram “Moda em Rodas”? Como e quando surgiu a ideia?

O perfil no Instagram (instagram.com/modaemrodas) foi criado no dia 14 de outubro de 2015 e, um mês depois, foi aberta uma página no Facebook (facebook.com/modaemrodas) para aqueles que não conseguiam acessar a rede social. O objetivo é o de compartilhar um pouco das minhas experiências, meus truques e meus achados ‘fashions’ para aqueles que, assim como eu, tem dificuldade de adquirir algumas peças e, especialmente, desconhecem as lojas e as grifes que eu sou cliente. Além disso, eu quero pretendo mostrar aos demais que “se vestir bem” ou “ter um estilo” não depende de corpo, altura e deficiência. Sim, quem sabe, fazer com que as outras aflorem a sua vaidade.

 Quais são as maiores dificuldades que você enfrenta no momento de comprar roupas, calçados e acessórios?

Certamente, eu tenho mais dificuldade quando o assunto é calçado. Meu número é entre 23 a 25, a depender da forma, mas minha idade não condiz com o que o mercado me oferece. Assim, eu recorro a um sapateiro que confecciona meus próprios modelos, especialmente os de salto alto. Infelizmente, a profissão de sapateiro, por conta da indústria, está cada vez mais escassa e trata-se de um trabalho praticamente artesanal e que, para a grande massa, é quase inviável adquirir um par.

Qual sua opinião sobre a moda inclusiva? E por quais motivos ela ainda encontra um espaço tão pequeno apesar de existir hoje cerca de 46 milhões de pessoas com deficiência?

Acho que o mercado da moda inclusiva ainda está engatinhando e, infelizmente, as empresas e as confecções só irão enxergar este público quando a publicidade o fizer. Porém esta realidade está mudando agora, como, por exemplo, o surgimento de uma modelo com Down na última New York Fashion Week. Mas se, pelo menos, as lojas já adequassem seus estabelecimentos para o consumidor com deficiência já seria um avanço. Eu quando eu me refiro a adequação, eu não estou falando apenas das adaptações físicas, mas para começar no atendimento.

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Como é a interação com as suas seguidoras?

A princípio está sendo bem positiva. O que mais me surpreendeu foi o fato de ter seguidoras de outros países que, a princípio, não achei que iria conquistar em tão pouco tempo. Por esta razão que eu faço sempre uma legenda em outra língua (inglês e espanhol). Além disso, outro fator que me chamou a atenção foi de que algumas seguidoras, em particular, me confidenciaram que foram vítimas de bullying e, por esta razão, nunca se sentiram atraentes, mas que através do meu perfil perceberam que esta realidade é possível. Por mais que seja apenas um perfil meramente de moda, eu me sinto bem em saber que consegui, por menor que tenha sido, elevar a autoestima de alguém e isto é uma recompensa pessoal que não há dinheiro no mundo que pague.

 Quais seus planos para o futuro?

A curto prazo é o de conseguir expandir o perfil no Instagram e a página no Facebook. Assim que eu perceber, no período de um ano, que a proposta deu certo, eu penso em crescer o nome “Moda Em Rodas” em um blog ou um site. Mas isso é um sonho bem mais para frente e, no momento, eu preciso tornar realmente estável aquilo que já iniciei.

Que mensagem você deixa para os leitores e leitoras desse blog?

O amor próprio, inicialmente, vem de nós mesmos e se nós não nos amarmos e não nos aceitarmos com os nossos próprios defeitos, quem irá nos amar?

 Obrigada, Heloísa pela oportunidade de poder falar um pouco da sua vida, do seu trabalho e dos seus sonhos

E aí, o que acharam da história de Heloisa? Gostaram?!

E que tal vocês conhecerem a história da Michele Simões, estilista que sempre sonhou em fazer intercâmbio. Mas, em 2006, ela sofreu um acidente de carro que a deixou paraplégica. Entretanto, o acidente apesar de tê-la deixado com os movimentos limitados, não matou o seu sonho de estudar fora. O intercâmbio veio e com ele um novo blog… cheio de vida e dicas úteis.

Então, se quiserem conhecer essa história inspiradora,  vejam a entrevista que ela me concedeu pelo Blog de Papo com Claudinha. Para isso, basta clicar aqui.

Michelle Simões