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Drº Antonio Marttos Jr, que acompanha a ex-atleta desde o acidente, informou que o tratamento com células-tronco vem dando resultado e que a lesão na medula regrediu

Rio – Onze meses após o grave acidente sofrido às vésperas da Olimpíada de Inverno de Socchi, Lais Souza teve boas notícias. De volta ao Brasil depois de iniciar o tratamento nos Estados Unidos, a ex-atleta soube por meio do Dr. Antônio Marttos Jr, que a acompanha desde o incidente (Lais caiu num treino de esqui), que o seu quadro vem evoluindo e ela já apresenta sinais de sensibilidade em algumas partes paralisadas do corpo.

“Tenho o prazer de informar que 10 meses após a lesão da Lais, depois da terceira injeção de células-tronco no último exame, ela converteu a lesão de completa para lesão incompleta. Hoje ela já tem alguma sensibilidade. Hoje, a Lais tem uma lesão incompleta de medula. Essa foi uma grande conquista. E isso muda tudo. Ela passa a ser candidata a outros protocolos, todos inovadores. Vamos lutar até onde der. Nós prometemos muita luta, muita garra”, disse Antônio.

Lais Souza mostra otimismo em sua recuperação

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O médico disse que apesar da paralisia, Lais tem tido uma evolução em seu quadro e que já possui sensibilidade nos pés e na região sacral, um pouco abaixo da linha da cintura. Segundo ele, a sequência do tratamento com células-tronco pode trazer novas possibilidades de recuperação.

“Todas as funções abaixo da lesão não funcionam. No caso da passagem de completa para incompleta, ela passou a ter uma sensibilidade na região sacral, que são as regiões S4 e S5. Ela tem uma sensibilidade fina nos pés hoje. As vias sensitivas estão passando através da lesão. Ela tem lesão. Ela não tem movimento, mas o estímulo motor está chegando aos bíceps dela. Então, isso mostra que tem possibilidade, não posso garantir que isso vai acontecer. Hoje a lesão é incompleta. Não está tudo comprometido. Tem muito trabalho pela frente. Hoje não está tudo parado. Há vias motoras que estão lá. Temos de continuar trabalhando para ver onde vai a evolução dela. Não se sabe”, afirmou.

Apesar do sorriso delicado e do jeito frágil, Lais faz questão de mostrar o seu lado guerreira e toda a determinação que tem tido no dia a dia para continuar na luta contra a paralisia. Ela revelou que sua atitude positiva tem ajudado bastante para se manter firme.

“Falo bastante com a minha psicóloga. Sou positiva. Tem muita adaptação, mas acho que a forma de aceitar a situação que me encontro me ajuda a encarar. Não vai ter o que fazer se não acabar encarando de corpo e alma. Tem que abraçar e não olhar pra trás. Tenho plano de andar, caminhar, recuperar algum movimento, alguma sensibilidade.”

Como ginasta, Lais esteve presente representando o Brasil em dois Jogos Pan-Americanos (2003 e 2007) e a duas Olimpíadas (2004 e 2008). Com os jogos Rio 2016 se aproximando, Lais disse que ainda sonha estar presente, e se possível, sem usar cadeiras de rodas.

“Eu me imagino bem próxima da ginástica, que é o esporte que amo. Quero estar próxima sim. Quero entrar andando ainda nesta Olimpíada. Quero chegar brincando do jeito que era antes.”

Confira a entrevista completa

Evolução do quadro clínico

Drº Antonio Marttos Jr. : “A gente conseguiu em Miami, com a ajuda do consulado brasileiro, intervir no governo americano para conseguir o protocolo de células-tronco. O tratamento é muito experimental, mas ela deve entrar em breve, sendo a primeira pessoa não americana a entrar nesse protocolo. A Lais desde o começo abordou isso de uma forma muito especial. Ela sabe que tudo tem tempo. Passo a passo ela está vencendo. Dez meses depois da lesão, depois da terceira injeção de células-tronco, no último exame ela converteu de lesão completa para lesão incompleta. Hoje ela tem sensibilidade. Hoje, a Lais tem uma lesão incompleta de medula. Essa foi uma grande conquista. Essa mudança muda tudo. Ela passa a ser candidata a outros protocolos, todos inovadores. O próximo passo seria uma parceria, estamos estudando, entre a universidade de Miami, uma universidade em New Orleans e um centro universitário de São Paulo, para que ela tenha a chance de evoluir. São boas notícias. Vamos lutar até onde der. Nós prometemos muita luta, muita garra. Ela comemora cada pequena evolução, pequeno passo. É isso que nós vimos. Não é fácil, tivemos altos e baixos. A questão da chegada do Brasil foi importante ela ver os amigos no sábado.

O que mais queria fazer no Brasil

Lais Souza: “Ver meus amigos. A chegada ao Brasil, senti falta da temperatura, do clima, algumas coisas que eu queria comer. Comer pão francês, coisas gordas. Acho que mais coisinhas assim. Lá eu tive acesso a tudo, tem restaurante brasileiro e tudo mais.”

Esperança

Lais: “Eu falo bastante com a minha psicóloga. Sou positiva. Tem muita adaptação, mas acho que foi uma forma de aceitar a situação que me encontro hoje e encarar. Não vai ter o que fazer se não acabar encarando essa situação de corpo e alma. Tem que abraçar e não olhar pra trás. Tenho plano de andar, caminhar, recuperar algum movimento, ou alguma sensibilidade. Acho que estou preparada para isso.”

Vantagem de ser atleta para a recuperação

Lais: “É a sensação que tenho, que ainda sou uma atleta. Tenho que encarar essa coisa de fisioterapia. O meu corpo, da mesma forma que cuidava quando era atleta. Agora, está sendo uma grande competição que vou encarar de cabeça erguida. Sempre forte, tentar manter alimentação boa. Porque paradinha, às vezes parece que não faz nada, mas gasta energia. Comer bem, treinar, fazer fisioterapia… e manter a cabeça boa.”

Diferença entre lesão completa e incompleta

Drº Antônio Marttos Jr.: “Todas as funções abaixo da lesão não funcionam. No caso da passagem de completa para incompleta, ela passou a ter uma sensibilidade na região sacral, que são as regiões S4 e S5. Ela tem uma sensibilidade fina nos pés hoje. As vias sensitivas estão passando através da lesão. Ela tem lesão. Ela não tem movimento, mas o estímulo motor está chegando aos bíceps dela. Então, isso mostra que tem possibilidade, não pode garantir que isso vai acontecer. Hoje a lesão é incompleta. Não está tudo comprometido. Tem muito trabalho pela frente. Hoje não está tudo parado. Há vias motoras que estão lá. Temos que continuar trabalhando para ver onde vai a evolução dela. Não se sabe.”

Olimpíada no Rio de Janeiro em 2016

Lais: “Eu me imagino bem próxima da ginástica, que é o esporte que eu amo. Quero estar próxima, sim. Eu até brinco com eles que eu quero entrar andando ainda nesta Olimpíada. Quero chegar brincando do jeito que era antes.”

Células-tronco

Lais: “Sou muito privilegiada por estar nesse tratamento. É inexplicável quanto me motiva saber que estou dentro disso. Motiva ainda mais saber que isso pode chegar aos brasileiros por mim. Fico orgulhosa. Estava no momento errado, na hora errada, mas não podia ter acontecido melhores coisas nesse momento, depois do acidente.”

Volta para casa

Lais Souza: “Vou para casa (em Ribeirão Preto) com certeza. Estou muito ansiosa. Todo mundo lá me esperando, a gente ainda está em adaptação para ver onde vou ficar, com quem, e carro, tudo mais. Complicado, mas provavelmente vou nessa cadeira que estou. Estou ansiosa para encontrar o pessoal. A cidade é pequena, muita gente que me conhece. Eu estou com saudade de todo mundo. Na minha casa ainda não tem muitas mudanças feitas. Um degrau ou outro, vou usar uma rampinha que comprei e tenho usado em Miami. E provavelmente vou usar um carro normal.”

Marcus Vinícius (superintendente do COB): “A maior parte das peças que ela usou lá na adaptação foi de doações de brasileiros que moram no exterior, a maioria de atletas. A doação desta cadeira, do carro adaptado, da cama adaptada, da cadeira de banho, da cadeira não elétrica. Foram todas doações de atletas brasileiros. A gente conta com a ajuda dos brasileiros para continuar a ajuda da Lais.”

Sonhos alterados?

Lais: “Tenho muitos sonhos. Ainda continuo com o mesmo objetivo, alguns mudaram com certeza. Hoje, um deles é voltar a andar, trazer novidades para o Brasil. Mas, continuo a mesma Lais. Meu objetivo de trabalhar, evoluir, virar uma mulher mesmo. Talvez trabalhando com negócios, saúde. Vivendo um dia após o outro, pensando sempre no presente.”

Lei de apoio tramitando no Senado

Lais: “Eu não sei bem em qual pé está essa situação, mas eu soube, e fiquei muito feliz. Quando a gente está passando por uma situação dessa, é uma mão que se estende para você. Para se sentir firme, motivada. Eu espero que dê certo. Essa regra, que você possa ter essa lei para os atletas que não seja apenas para do esporte. Para quem está treinando, que corre risco, isso faz toda a diferença, é importante para todo mundo.”

Marcus Vinícius Freire: “Desde o primeiro momento, nos procurou a deputada Mara Gabrieli, que teve uma lesão quase idêntica com a da Lais. Ela tem um relacionamento grande com Miami. Ela se alistou em protocolos em Miami, mas não teve a sorte e a velocidade de resposta. Ela levou a proposta ao congresso nacional, passou para a Câmara, mas ainda não é confirmada como lei. Está em vias de fato de ser efetivada. A Lais é pioneira em difundir, estender a discussão. Não existe carteira de trabalho, seguro, para nenhum dos atletas. A Mara e a Lais têm uma força gigante, e podem mudar outra lei no país.”

Relação com pessoas próximas

Lais: “As pessoas que trabalharam comigo no hospital ou fora. Todo mundo foi carinhoso comigo, no momento que eu estava muito sensível, com muita dor. Todo mundo ficou do meu lado, motivando a continuar, levantar a cabeça. Mas, sempre tive esse jeitinho descontraído, facilitou um pouco a convivência. Eu fiquei surpresa um pouco. Eu sabia da gravidade do meu acidente, mas por conta de estar dopada, com febre, muita coisa eu acabei não vivendo, não vendo. Tenho meu coração grato a essas pessoas. Não tenho como agradecer essas pessoas que me ajudaram, que fizeram doações. Se não fosse elas, acho que estaria tudo bem diferente.”

Recado para outras pessoas com lesões parecidas

Lais: “Acho que essas pessoas, assim como eu, vão ter que ter muita paciência para encarar essa situação. Todo um processo muito lento, doloroso. Sempre sente uma coisinha, uma dorzinha. Mas isso vai melhorando com o tempo. A melhor notícia que a gente pode ter tido de um tempo para cá são esses tratamentos, esses estudos crescendo a cada dia. Mesmo nos Estados Unidos, teve muita gente me procurando. Tem que levantar a cabeça, tem que ir para frente. Não tá longe da cura. Tem que acreditar sim e não perder a esperança.”

Estado emocional durante a recuperação

Lais: “Eu fiquei bastante tempo no hospital, foram várias fases. Eu primeiro passei a respirar sozinha, comer sozinha. Comecei a me sentir melhor. Acho que foi um passinho a cada dia, cada semana. E fui crescendo com isso também. Eu, como pessoa, fisicamente, fui conhecendo esse mundo da cadeira de rodas em si. Ele é rico e tem muita gente que passa pela mesma situação. Toda hora acontecem acidentes, lesões do tipo. Eu nunca ficava parada no quarto, sempre fui muito espoleta. A maior dificuldade é encarar a situação de ficar quietinha. Tenho momentos que choro, mas estou feliz, vendo que tem luz no fim do túnel e não tenho que desistir. Passo por esses momentos, altos e baixos como todo mundo.”

Reportagem Edsel Britto

Fonte: IG